Pousada de Verão

- Já agora. Onde é que estiveram até estas horas?
-Estivemos a ver uma chuva de estrelas - expliquei. - Hoje atingiu o pico e viram-se umas enormes!
-Oh... a sério?
-Yap. Mas eu estive a ver na Net... Vai haver outra em Dezembro com uma taxa de estrelas cadentes semelhante à de hoje. O armazém velho lá do campus é ideal para as observar... É um sítio escuro o suficiente para podermos observar até a estrela mais longíqua! Por isso daqui a meio anito podes ver também - disse-lhe.
-Ok - respondeu.
Lilith também adormecera durante o meu pequeno discurso. E passado um bocadinho também eu estava no meu sexto sono.

-Podes experimentar algum dos meus vestidos - sugeriu Lilith.
Vesti alguns, mas eles ficavam-me demasiado curtos e eu não andaria com aquilo.
Erika vestiu uns calções e eu decidi fazer o mesmo que ela. Isso eu já tinha.
Vesti uns calções de ganga e um top que Lilith me emprestou, em que se notava um bocadinho da barriga. Calcei as sapatilhas.
-Já estão prontas? - perguntou Erika.
-Eu já estou - disse enquanto ia para a janela.
Olhei para a praia e apesar de estar escuro, reparei em algo estranho. Um rapaz caíra no chão e uma rapariga estava muito aflita a olhar para todo o lado.
-Eu já venho - avisei-as e saí disparada.
-Hey, que se passa? - perguntei à rapariga que trazia um objeto que me era estranho na mão.
-O Richie está a ter um ataque de asma - disse-me. Depois é que reparei que o objeto era uma bomba para a asma.
Fiquei preocupada, mas passados uns minutos a minha preocupação pareceu estúpida pois ele já estava bem.
-Eu sou a Jô - apresentei-me.
-Eu sou a Avril.
-E eu o Richie.
-Prazer em conhecer-vos - sorri. - Hoje pelas onze vai haver uma festita ali - apontei para o bar. - Apareçam - convidei. - Bem, tenho de ir ter com as miúdas. Estás tudo ok contigo? - dirigi-me a Richie.
-Sim, fica descansada.
-Quero ver-vos na festa - despedi-me.
Quando cheguei ao quarto, todas elas estavam prontas.
-Bem, ainda são dez horas, meninas. Por isso, vou dar ao dente lá no restaurante pois o lanche não me encheu nadinha. Querem vir comigo?

Vimo-los enquanto nos dirigiamos ao bar.
Já se ouvia música, parecia-me a "Feel Alive" de Jean Elan e Cosmo Klein. A praia estava cheia de querubins e luzes multicolores por todo o lado.
-Boas - cumprimentei estendendo a mão para dar um hi-five a que estava habituada, seguido de um leve murro.
Mas o moreno agarrou-a e baixou-se ligeiramente. Só aí cheguei à conclusão que o suposto era dar dois beijinhos na cara.
Eu não estava habituada a isso. Mas lá consegui disfarçar o fail e cumprimentar o resto com os dois beijinhos.
-Tu nunca saíste, pois não? - perguntou Lilith ao meu ouvido, tendo de gritar na mesma devido à "Alone" de Liquideep que estava a alto som.
-Já saí - defendi-me. - Só que nunca nestas circunstâncias - e apontei para os quatro rapazes à nossa frente, com Erika e Sara no meio.
Ela sorriu.
-Mas já beijaste algum gajo ao menos?
Se eu fosse personagem de um anime, teria-me saido fumo das orelhas enquanto a minha cara ficava de um vermelho vivo.
-Ah, nunca beijaste! - gozou. - Está chapado nessa tua carinha laroca - sorriu. - Pode ser que hoje tenhas sorte ai com o moreninho. Eu vou tentar a minha com o loiro bonzão. A Sara e o ruivo, e a Erika e o outro loiro. Parece-me bem...
Ai, eu não nunca pensei que alguma vez teria uma conversa daquelas.
-Então, meninas? - olharam para trás. Eu e Lilith tinhamo-nos atrasado por causa da conversa.
-Sorry - dissemos em uníssono enquanto corríamos para eles.
Entramos no bar e "I just want to make you sweat" de Snoop Dogg e David Guetta começou.

Erika separara-se de nós. Ainda tentamos ficar com ela, mas ela disse que preferia ficar sozinha.
-O que as meninas querem? – perguntou o loirinho que Lilith estava a fazer olhinhos.
-Eu queria uma daquelas bebidas que parece um pôr do sol – disse-lhes.
Elas foram dizendo o que queriam enquanto eu olhava para o recinto. Estava mesmo cheio de gente, ainda bem que também dava para ir para a areia… por senão, não haveria espaço para nós.
Quando chegaram, o moreninho deu-me o copo com a bebida. Reparei que aquilo não era de vidro, mas afinal era sempre melhor assim, porque evitava acidentes desnecessários.
Fomos para a parte do areal e sentámo-nos nos pufs que estavam livres. Começou a passar “Messe messe”. Eu olhei para dentro de uma espécie de tenda super gigante, onde devia ser a pista de dança.
-Queres ir? – perguntou o moreninho ao reparar que estava a dar ao pé juntamente com a música.
-Não, acho… - ele levantou-se e estendeu a mão.
-Vá, anda – disse antes de eu agarrar a sua mão e levantar-me.
Entramos e pusemo-nos no meio daquele pessoal. Primeiro, eu dava uns passinhos de um lado para o outro, um bocadinho pouco à vontade. Depois de algumas músicas passarem, já estava a saltar toda maluca juntamente com o pessoal.
De repente, o DJ diminui o volume e levantámos os braços enquanto todos cantaram:
-Party rock is in the house tonight/Everybody just have a good time/And we gonna make you lose your mind/We just wanna see you/Shake that!
E a música voltou em força novamente.

A luz branca ia-se desligando e voltando a ligar-se sucessivamente. Aquilo fazia-me confusão na cabeça, mas não conseguia parar de dançar/saltar.
-Pound the alarm – gritámos todos com a música da Nicki Minaj.
Depois, foi tudo muito repentino. Num momento, nem sabia onde ele estava. No outro, a língua dele estava a ir contra os meus dentes cerrados. Apertou-me suavemente a cintura para eu me dar conta que tinha de abrir a boca.
Mas não ia dar.
Empurrei-o e ele não me ofereceu resistência.
-Tenho de bazar – disse-lhe ao ouvido antes de sair dali.
Começou “Little Bad girl”.
Eu simplesmente não iria conseguir com ele. Apenas com… Reprimi o pensamento. A minha barriga começou a doer-me ainda mais e a temperatura também aumentou significativamente. Aquilo não podia estar a acontecer-me.
Cheguei ao porão, andei até à sua extremidade e sentei-me numa rocha. O mar estava calmo, tal como de tarde e via-se o reflexo do quarto crescente.
Peguei numas pedrinhas e atirei para o mar.
-Desculpa aí a cena – disse-me enquanto se sentava ao meu lado.
-Ná – disse-lhe. – Eu é que sou estúpida – suspirei e “uma aberração”, pensei.
Ficámos um bocado em silêncio.
-Eu é que devia pedir-te desculpa… Os teus amigos devem estar a divertir-se mais do que tu – lembrei-me de falar.
-Podemos fazer de conta que nada disto aconteceu e curtir o resto da noite – deu a ideia.
Pensei um bocadinho.
-Gostas de jogar matrecos? – perguntei. – Vi lá uns. Podíamos jogar.
-Sim, gosto – respondeu enquanto se levantava. – Vamos lá jogar então – ajudou-me a pôr de pé.
Vimos dois miúdos num dos matraquilhos.
-Vamos jogar contra eles? – perguntei. – Eu prefiro jogar a equipas que sozinha.
-Por mim, na boa – sorriu.
Juntámo-nos a eles.
-Queres ir à frente ou à defesa? Eu sou melhor à defesa, mas também me safo no ataque.
-Vai à defesa, então. Depois mudamos.
-Ok – sorri. – Querem fazer alguma aposta só para tornar a cena mais interessante? – perguntei-lhes.
-O perdedor paga as bebidas a seguir.
-Oki.
Um dos miúdos atirou a bola e começamos a jogar. Eu tentava enquadrar os meus bonecos com os espaços entre os do adversário para não haver espaços abertos e assim diminuir a probabilidade de sofrer um golo de longe.
Quando a bola estava nos jogadores mais avançados do adversário, eu tinha mais cuidado. Punha um dos bonecos à frente da bola e o guarda-redes ligeiramente ao lado para tapar a baliza o mais possível.
Estávamos já em 4-0, em que um dos golos tinha sido de baliza à baliza.
-Damos-lhes 5 secas? – gozei enquanto o miúdo batia com a bola na chapinha de metal e pô-la novamente em jogo.
O rapaz ficara um bocadinho irritado e quando a bola chegou aos seus bonecos mais avançados, deu logo uma pancada seca e super forte. Foi tão forte que ao entrar na baliza, bateu na madeira do fundo e voltou para o campo. Aproveitei e chetei a bola ligeiramente enviasada para a esquerda e ela foi direitinha para a baliza adversária.
-Que zerada! – pegámos com eles.
-Ainda temos quatro bolas – lembraram-se.
Trocamos de posições e fui para o ataque. Eu adorava irritar os adversários, pois ao perder a paciência ficava o caldo entornado.
Parei a bola nos meus três avançados. Fui passando a bola entre os três, parando de vez em quando e fingindo chutar. Parei a bola no centro e com o boneco do meio andei às voltas da bola.
Depois fingi que ia mandar para o boneco da direita, a baliza ficou toda aberta e eu chutei a bola. Apesar da bola ir devagar, isso foi inferior ao tempo de reação do rapazinho, marcando um lindo golo à merdinha.
Estava 3-0, por isso não havia mal em experimentar algo diferente.
A bola estava nos últimos três bonecos. Eu tinha visto os meus antigos colegas a fazê-lo, mas nunca tinha experimentado.
Fiz de conta que ia chutar, mas o que fiz foi dar meia volta à bola e passar para os cinco de trás e com estes dei uma martelada forte. Mas não tinha enquadrado bem os de trás com os defesas, fazendo então ricochete no guarda-redes. O moreninho lá tentou defender, mas não conseguiu, ficando 3-1.
Apesar de termos ganho duas partidas, a segunda não ficou completa (ninguém chegou aos 5 golos) e eles não quiseram jogar mais, por isso só pagaram uma bebida.
Depois também fomos jogar bilhar.
-Jogas por pontos ou pela quantidade de bolas? – perguntei.
-Qual é a que tu jogas?
-Como somos só dois podemos jogar pela quantidade de bolas. É que se fosse por pontos tínhamos de estar sempre a tirar as bolas para as pôr nas redes de cada um.
-Ok – respondeu.
Ele foi o primeiro a pôr uma bola, que era preenchida totalmente.
-Agora as que eu tenho de pôr são aquelas que têm as bases brancas. Se pores as bolas do adversário na rede, tens de sacar uma tua e a do adversário também tem de voltar para o jogo. Quando pusermos todas as nossas bolas temos de por a 8. Ganha quem a pôr primeiro, of course – expliquei.
Jogamos duas vezes e nessas duas vezes foi ele que ganhou.
-Raios – disse quando eles pôs a 8 no segundo jogo.
Guardámos as coisas e fomos entregar ao empregado.
-Apesar de a noite não estar a correr como planeado, até estou a gostar – disse-me.
-Ainda bem – sorri.
Depois vi Erika ao fundo. Apesar de estar sozinha, parecia que até se estava a divertir.
-Então, que fazes? – perguntei indo ter com ela. Encostei-me à grade de metal.
Encolheu os ombros.
-A admirar a noite, acho.
-Ah, parece-me ser fixe – sorri.
-Jô, queres vir jogar às setas? – perguntou o moreninho. – Os miúdos dos matrecos desafiaram-me – e abanou o telemóvel no ar.
-Ná, acho que vou ficar aqui a descansar. Vai tu e dá-lhes uma abada por mim – sorri.
-Ok – saiu.
Sentei-me no chão e olhei para a paisagem linda que estava à nossa frente, com “Rock the boat” de bob sinclar como música de fundo.
-Então como correu? – perguntou Erika.
-Penso que as outras devem estar a ter mais sorte que eu nesta questão de curtes… Ainda nem as vi!
-Ya… o que será que estão a fazer? – perguntou de modo malicioso e rimo-nos.
Então começou a dar “Danza kuduro”.
-Mim saber esta coreografia – levantei-me num instante.
Comecei os passos e depois de Erika de ver como se dançava, juntou-se. A início não estava ninguém a ver-nos, mas uma ou outra pessoa viu-nos e os mais corajosos juntaram-se a nós. Uma multidão saiu da tenda e foi para o meio do areal juntar-se ao grupo cada vez maior. Era tão fixe o facto de nunca ter visto aquelas pessoas na vida, mas elas fazerem os mesmos passos que nós (com algumas variantes) e certinhas com o tempo. O DJ reparou o que estava a acontecer, então pôs-se a misturar músicas, cuja coreografia seria conhecida por todos.
A música foi sendo mixada e apareceu uma música que ninguém esperava, e apesar de alguns protestos todos sabiam a coreografia:
“Levantando las manos/moviendo la cintura/com movimento sexy”
“una mano en la cabeça/…/un movimiento sexy/…/ una mano en la cintura/…/un movimiento sexy/.../suavecito para abajo/…/suavecito para arriba”
Passamos até pela "asereje" e fiquei admirada por ainda saber a coreografia. E claro que a Macarena não faltou! Eu gosto da macarena, pois foi uma música que me acompanhou a infância.
Para terminar esta espécie de flashmob, passou um trecho da “La Bamba” e pus as mãos nos ombros de Erika. Uma pessoa pôs-se à frente dela e essa começou a guiar o comboio humano que tínhamos acabado de fazer. Depois juntou-se tanta gente que estava dificil guiá-lo. As pessoas começaram a dispersar, quando as músicas mais "normais" voltaram.
Depois começou “ritmo do meu flow” dos flow 212 e passado um bocado, umas miúdas tinham subido para cima das mesas e começaram a dançar. Estávamos na parte mixada de “Where have you been” de Rihanna e elas continuavam. Claro que os rapazes ficaram todos tolos, mas isso já é normal. O que não era normal era o que me estava a passar pela cabeça. Desviei o olhar para o mar.
-Estou morta – disse a Erika, sentando-me agora nuns pufs que tinham ficado livres.
-Eu também. Isto foi fixe – sentou-se ao meu lado.
Passou-se para “Scream” do Usher, talvez porque os ânimos se tenham levantado demasiado.
-Eu adoro estas cenas, a sério – disse-lhe.

A festa já tinha dado o que teria para dar. Por isso, resolvi voltar para o quarto. Estava cansada e eu no dia a seguir ainda queria experimentar andar de moto de água.
Entrei no quarto e fui tomar um duche pois tinha feito mais exercício físico ali do que em toda a minha vida.
Vesti o que me estava mais à mão e atirei-me para a cama. Adormeci instantaneamente.

Comecei a ouvir uns barulhos e acordei. Levantei-me um bocado a medo e abri a porta devagar. Era o loiro de Lilith.
-Posso entrar? - perguntou.
-Onde está Lilith?
-Ali - apontou para a sua direita.
Abri a porta e vi Lilith a dormir no chão.
-Posso levá-la para dentro?
-Claro! - respondi à pergunta mais que obvia.
Ele pegou nela e pousou-a na sua cama.
-Podes dizer-lhe que adorei a noite de hoje? - perguntou.
Fiquei vermelha.
-Hmm, sim, sim. Digo. Bem, tchau - despachei-o.
Olhei para Lilith que estava a dormir ferradinha.
Uau, será que... Reprimi o pensamento. Estava a ficar mesmo boa nisso.