Recruta nº28

Acordei zonzo, com a visão meia atribulada, num sítio completamente às escuras. Estava muito frio e o local era um bocado húmido. Tentei olhar à volta, mas os meus olhos ainda se estavam a habituar à escuridão. Foi  então que senti movimento no meu braço. Olhei e sobressaltei-me.

- Shit!

Uma aranha bem grande. Sacudi o braço violentamente, num esforço para a afastar. Se havia coisa à qual tinha fobia, seria aranhas. Olhei para mim: tinha uma camisola azul clara, ao invés da habitual camisola vermelha.

- Ah... Ok. - fazia mais sentido; tinha começado a recruta.

Os meus olhos já estavam completamente habituados à escuridão. Comecei a explorar o espaço, que parecia uma tenda.

Sinto o corpo dormente. Tento abrir os olhos, mas existe demasiada luminosidade... Abro e fecho repetidamente para tentar adaptar-me... Mas o que será que aconteceu? Onde Estou? Tento movimentar-me mas não consigo. What? Está um holofote enorme a apontar para mim. Olho para os meus lados e mal me consigo levantar. Começo a entrar em pânico... OMG, estava dentro dentro duma caixa...uma minúscula caixa... Olho para mim, tenho a T-shirt da Recruta vestida.. Ohh não Já percebi tudo. Estava aqui para ser testada nos meus piores medos... Não soa nada bem...
Noto que os meus pés estão os dois acorrentados... E agora o que faço??? Começo a sentir as paredes a reduzir e a reduzir.... Sei que é tudo psicológico, mas faz-me ficar sem ar, preciso de sair, PRECISO DE SAIR! Olho em frente... Está uma plateia cheia com bonecos de madeira... Espera aí... Uma plateia??? Olho agora, melhor em volta... Estou numa tenda, em cima do que parecia ser o palco....
Não pode ser bom...

Abri os olhos espantada. "Mas o que raio se passa aqui?" pensei.

- OH MEU DEUS, CREDO NÃO ACREDITO!!! - berrei, literalmente.

Estava em cima de uma plataforma bem lá no alto do que parecia ser uma tenda de circo. Pensei automáticamente em American Horror Story: The Freak Show, não sei porque mas pensei. Decidi não olhar para baixo quando reparei na t-shirt que tinha vestida. "Oh Shit, já começou".
Olhei em frente e lá estavam obstáculos. Comecei a raciocinar.

- Wait what? HELL NO. Não faço isso! - gritei mais uma vez. Estava sozinha e provavelmente ninguém me ouviria.

Tentei levantar-me mas visto de cima ainda era mais alto, as minhas pernas fraquejaram com o pânico e eu sentei-me novamente.

Abri os olhos e pensei onde é que eu estou mas quando olho à minha volta vejo palhaços assustados e leões a rosnar para mim.
- AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!- GRITEI EU CHEIA DE MEDO.
Olhei à minha volta e não estava ninguém estava sou eu e aquelas personagens horrorosas de quem eu tinha tanto medo ainda por cima estava fechada numa jaula a primeira coisa em que pensei foi tenho de sair daqui mas começei com falta de ar e desmaiei.


Mais tarde acordei de novo e pensei isto é um pesadelo, nao é real. Mas era e depois é que tudo se esclareceu:

- Isto é a recruta em que ele nos vão testar para ver se conseguimos ultrapassar os nossos medos. Já sei vou tentar acalmar os palhaços e depois vou arranjar forma de sair daqui.

E foi uma tarde pensativa

Acordei com a visão turva.. pensei "Oh meu Deus! Onde estou?" olhei em minha volta.. eu estava numa tenda a muitos metros do chão. Depois de processar a minha descoberta entrei em pânico.. afinal, o meu maior medo é o das alturas..! Antes de acabar o meu pensamento reparei que tinha vestida a T-shirt azul da recruta.

-Não pode ser! A recruta já começou e ainda por cima desta maneira! - ok, aí é que já estava mesmo a entrar em pânico. De repente lembrei-me que uma vez estava a viajar com os meus pais de avião eles aconselharam-me a dizer em voz alta "Não entres em pânico!" e depois de o dizer acalmei-me. Então experimentei fazer o mesmo nesta situação.

-Acalma-te! Não entres em pânico! - não melhorou nem um bocado.

Apercebi-me que ao meu lado estava um monociclo. Primeiro achei estranho, mas depois lembrei-me que estava numa tenda no circo. Gritei:

-Espera, num circo com monociclos ao meu lado? - isto não é nada bom.. depois vi que há minha frente estava uma corda bamba e trapezios.-Não quero acreditar! Eu não vou fazer isso! Se me desequilibro caio e está visto que a queda é mortal!

Era uma tenda pequena e escura, aparentemente cheia de caixas. Para qualquer lado que olhasse via uma aranha ali e outra acolá. Não estva a gostar absolutamente nada. Decidi abrir uma das caixas. Um grande erro.

Ao abrir a caixa, centenas, mas CENTENAS de aranahas começam a sair.

- Shit! Fug, fug, fug, fug, fug, fug, fug, fug, fug, fug, fug... - estava completamente em pânico. Saltei para cima do pequeno palco, tentando me afastar o máximo possível da caixa. pensava. .

Foi então que as luses se acenderam. Ao principio fiquei encadeado, mas depressa os meus olhos se habituaram à luz, que apesar de existir, era ténua. Olhei pra cima, procurando a sua origem.

- Malditos... - a luz vinha de um pequeno holofote pendurado no teto, rodeado de teias, o que lhe dava um aspeto de muito antigo.

Ao lado do holofote estava uma placa que dizia: "Recruta, as aranhas são alimento". Comecei a sentir tonturas. A minha recruta seria comer as aranhas. Comer aranhas. Comer pequenos araquinídeos nojentos que podiam ser venenosas.

- Estão a brincar certo??? - gritei - Podem parar malta, a brincadeira acabou... - nem eu ouvia bem as minhas palavras...

Ok. Relax. Tenho que aprender a controlar-me. Inspira......Expira...... Estava presa no meu maior medo, mas sabia que ia de ter de ultrapassar para conseguir passar a Recruta... Não era assim tão fácil... Só quero sair daqui o mais depressa possível... Vá Lauren, pensa, pensa... Tenho de analisar a minha situação. Observo as correntes que estão à volta do meu tornozelo. O primeiro passo é soltar-me.

- Está Alguém aqui?? - gritei.

Mas não houve resposta... Senão havia ninguém que me ajudasse, e se não há uma chave dentro da caixa onde estou, que permita que abra o cadeado das correntes.. COMO É SUPOSTO EU SAIR DAQUI?
Tem de haver uma solução....ou uma pista algures..........
Sento-me virada para a plateia. A caixa é de vidro, e dá para ver bem o exterior.. Estar sentada sempre me ajudou a acalmar-me da minha claustrofobia... Decidi ficar mais atenta, pois ia ficar ali eternamente, otherwise i figure out como sair...
Ao princípio não se percebia... Mas tentei focar a minha visão, e YES, acho que encontrei qualquer coisa!! No corpo de um dos bonecos de madeira conseguia-se ler gravado uma mensagem:

- PARA A SAÍDA PRECISAS DA CHAVE - ....Ohh No Shit Sherlock.... Até aí tinha percebido! Mais a baixo também se conseguia ler :
- NÃO É MAGIA, É ILUSÃO. - What The Hell? O que quer isto dizer?

Olá- disse eu a medo.

Os palhaços olharam para mim com ar aterrorizado e eu encostei-me a um canto passados uns minutos engoli o medo e disse:
- O que é que vos aconteceu

o MAIS VELHO DISSE:

-Prenderam-nos aqui e nao conseguimos sair

- Eu vou ajudar-vos.-disse eu

E gritei com todas as minhas forças
-SOCORRO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Enquanto os leoes rosnavam

As recrutas na CHERUB são cada vez mais perigosas, de modo que por vezes é necessário que algum T-shirt branco vigie os recrutas, de modo a garantir que não há feridos graves. Desta vez, o trabalho coubera a Vince Morte, que vigiava os jovens fora das tendas, através de câmeras de segurança....e Gabrielle estava a deixá-lo seriamente preocupado. Quando ela desmaiara, os palhaços conseguiram manter os leões calmos. Mas ninguém consegue fazer milagres. Leões domesticados continuam a ser animais perigosos. E quando a recruta gritara, assustara-os a valer. Agora eles rugiam e encurralavam-na, aproximando-se cada vez mais dela, prontos para a atacar, o que só aumentava os gritos da rapariga. Vince só tivera tempo de entrar a correr na tenda e abrir a porta da jaula, que por sorte estava por trás de Gabrielle, e tirá-la de lá para fora, um segundo antes de os leões se atirarem a ela. Mais tarde os palhaços conseguiram acalmá-los e saírem também de lá.
-Gabrielle, a tua recruta acaba aqui. - anunciou Vince. - Parece que ainda não estás psicologicamente preparada para a recruta. Serás enviada de volta ao campus da CHERUB, depois de passares por o hospital para ver se está tudo bem. Espero que compreendas que se eu não interviesse, estarias morta.

Bem....não havia volta a dar.. Tinha mesmo que ultrapassar estes obstáculos.

Analisei o que estava lá em baixo: sem redes sem nada que evitasse que eu embatesse no chão. Então.. o que poderia eu fazer para conseguir passar por isto sem me desequilibrar?

Reparei que ao meu lado estava uma caixa pequena. Abri e tinha lá um papel que dizia "Coragem". Passei-me! A única pista que eu tinha era uma palavra e que ainda por cima era a mais óbvia que podiam dar. Mas mesmo assim comecei a raciocinar. Aproximei-me da corda.. apercebi-me que era segura, ou seja não quebrava. Mas mesmo assim, bastou olhar para baixo para perder a confiança toda (que já não era grande).

Arrependia-me agora do momento em que disse aos instrutores que era aracnofóbico. Sem pensar muito, fui lentamente até ao canto da sala, onde podia ter a costa coberta e estar atento a todos os outros lados. A aracnofobia estava a dominar-me completamente. Naquela sala devia haver pelo menos umas 350 aranhas. Não tinha olhado bem para nenhuma (nem fazia questão) mas provavelmente seriam de espécies diferentes. Outra possibilidade era existirem venenosas, mas, devido ao meu medo de aranhas, que me levou a fazer pesquisa, sabia que apenas 27 em 35.000 espécies é que podiam fazer mal a humanos. A probabilidade era muito escassa, mas não era nada que os recursos da CHERUB não conseguissem arranjar...

Tinha agora que dominar o meu medo e me mentalizar. Não seria fácil, mas também não é que eu tivesse opção...

Ok...aquela mensagem ecoava na minha cabeça... Não é magia, é ilusão...O que queria isso dizer? Aquela tenda sugeria que devia estar num circo... E já tinha chegado à conclusão que devia estar numa espécie de " espetáculo de magia " Perspicácia era um dos meus fortes e tenho orgulho nisso...
De qualquer maneira já estou aqui há algum tempo, e para além disso não fiz nenhuns progressos.. Estava a sentir-me tonta. Nunca fiquei tanto tempo assim num sítio fechado como este. NUNCA Sentia-me como se me estivessem a asfixiar, como se os meus pulmões estivessem a encolher...

- É tudo psicológico, é tudo psicológico... - disse para mim mesma.

Tenho de continuar. Quanto mais depressa me despachar melhor para mim, e também é bom porque posso receber " pontos extra " por descobrir a solução desta prisão rapidamente... Temd e ter alguma coisa a ver com " ILUSÃO ", o que é que eu não estava a ver? Algo me está a escapar...

Tentei acalmar-me. A plataforma era larga, mesmo se eu andasse normalmente seria impossivel cair, era mais o pânico que outra coisa. Levantei-me outra vez, desta vez, sem olhar para baixo. Apenas olhei em frente.
Estava um trampolim acerca de 2 metros de mim, e a única maneira de continuar seria saltando-lhe em cima. "Porra! pensei. Respirei fundo e acalmei-me. Subi para o trampolim e comecei a saltar para chegar ao outro lado, sabendo que um salto mal dado seria a morte certa. Disso não havia dúvidas.
Mais ou menos a meio aterrei mal e caí mesmo à berma, a minha cabeça ficou no ar sem nada por baixo. Tive um daqueles mini ataques cardiecos que os sustos provocam às pessoas.
Levantei-me a cuidado e continuei. Cheguei ao fim sem problemas e sentem-me na berma do trapolim, ofegante, para descansar.

Fui para um sítio mais seguro para recuperar confiança. Lembrei-me duma coisa:

-Eu estou na recruta - começei - e estou a fazê-la para me tornar numa agente. Logo, é impossivel que deixem algum recruta morrer..

Na minha cabeça fazia muito mais sentido, então decidi deixar o meu medo e aproximar-me da corda. Mas não fui capaz de o fazer. No primeiro segundo em que olhei para baixo entrei em pânico.

-Como é que hei de passar esta prova se basta olhar para baixo para perder logo toda a coragem?

Pensei, pensei.. até que resolvi inspeccionar o monociclo.. olhei para a roda e vi que  à volta da roda tinha uma espécie de traço em que se lá enfiá-se a corda o monociclo não se soltava.

-Okay.. - pensei -isto já é um progresso.. a única coisa que me irá impedir de ir é o medo, pois se a queda é mortal ou não, já não importa muito. - tentei dizer isto de forma calma sem entrar em pânico, afinal a minha outra alternativa era desistir e eu queria mesmo ser agente!

As aranhas estavam como reunidas no meio da sala. era a única coisa que me passava pela cabeça. O meu movimento seguinte foi quase como automático.

*Slap*

- Fónix concentra-te Pedro. Tu és melhor que isto.

Levantei-me. Ainda me queria manter longe das aranhas, mas não me podia deixar afectar. Muito. Ok tinha que as comer. Não ia obviamente pegar num monte e comer assim do nada. E tinha que as matar primeiro. E para as matar precisava de uma ferramenta. Não ia come-las espezinhadas...

A ideia continuava a não me agradar, mas ao menos estava a ganhar alguma confiança. E nada como matar algo que eu não goste nada... Comecei a procurar uma ferramenta para as matar. Tinha que ser algo pontiagudo, para lhes poder espetar e não esmagar... Algo tipo uma estaca ou um parafuso. As caixas deviam estar presas por alguns... Mas não me atrevia a aproximar-me delas. Tinha que ser algo que estava mais perto. Por exemplo um pedaço do palco!

Comecei a tentar arrancar um pedaço da madeira do palco. Ou aquele palco era muito bem construído... ou a minha aracnofobia tinha-me arrancado as forças, porque não conseguia arrancar nem uma lasca...

Olhei em volta. Tinha de haver qualquer coisa. Começo a observar as paredes da caixa onde estava inserida. Fui passando com a mão para ver se encontrava alguma abertura, alguma falha, algum botão.....mas Nada... Verifiquei cada aresta, cada canto, cada centímetro da maldita caixa e não havia absolutamente Nada..
Estava a começar a entrar em desespero, já devia ter passado uma hora... Mais coisa, menos coisa.
Dei um puxão com os pés, mas só me estava a magoar mais. Sentia-me impotente...
Tinha de haver algo escondido, dentro deste sítio. Ohh...uma coisa de que não me tinha lembrado... Vasculhar a roupa que tinha vestida. Será que me haviam colocado alguma coisa nos bolsos?
Não perdi tempo. Fui direta aos bolsos das calças, mas estava tudo vazio. Também não tinha nada nos sapatos porque estava descalça.. Por fim, na T-shirt azul clara que tinha, também não aparentava ter sofrido quaisquer alterações...
Não podia ter ficado mais desanimada...
Sentei-me encostada a uma das paredes da caixa de vidro e cruzei os braços por cima dos joelhos. Lembrei-me subitamente do joelho que tinha magoado alguns dias antes, aha agora já não me doía...
Olhei de relance para o cadeado que pendia das minhas correntes.. Espera. Um cadeado? Porque haveriam de colocar um cadeado, se não existe uma chave para o abrir?

Recuperei o folgo e levantei-me. Andei até chegar a um canhão, isso mesmo, UM CANHÃO. Parecia-se com os dos desenhos animados. Até tinha o rastilho para o acender.
Atrás do canhão estava um baú, abri-o. Lá dentro estava um fato com a parte áspera do velcro, um capacete, óculos de proteção, fósforos e um bilhete.

"Veste o fato, põe o equipamento de proteção e tenta não falhar o alvo. É a única maneira de desceres." - era isto que o bilhete dizia.

Olhei à volta e no fundo da plateia estava um alvo. Por causa da minha aflição de não olhar para baixo, não me tinha dado conta de que a plateia eram, na verdade, bonecos. Uns sinistros bonecos.
O canhão tinha uma mira. Coloquei-me atrás e tentei mirar o alvo.
Uma vez o alvo mirado, vesti o fato e coloquei o capacete. Acendi um fósforo, a minha mão tremia de medo e pânico. Mil pensamentos passaram pela minha cabeça, "Então e se falhar? E se eu mirei mal o canhão? E... E se o canhão não tiver força suficiente?". Senti os dedos a aquecerem e apaguei o fósforo. Voltei a acender outro com o qual acendi o rastilho, pûs-me a correr para a parte da frente e saltei para dentro do canhão o mais rapidamente possivel. Uma vez lá dentro já não havia volta a dar.
Fechei os olhos à espera que isto tudo acabasse.

Então comecei a preparar as coisas. Reparei que havia mais do que um monociclo. Achei estranho.. Mas pronto, continuei.

Estava tudo pronto, então, peguei no monociclo e levei-o para a corda. Pu-lo na corda...

-Não acredio! - gritei eu - O monociclo não encaixa na corda!

Eu estava demasiado desesperada para sair daquele sítio e mais um obstáculo.. pensei um bocado sobre o assunto até que me lembrei do monte de monociclos que estavam num canto. Fui até lá, peguei noutro monociclo e regressei para junto da corda. Também não encaixava.

Fiz o mesmo percurso várias vezes até que, por fim, encontrei um que encaixava na corda.

Não perdi mais tempo. Meti-me em cima do monociclo e...

-Não sou capaz!

Não acredito que não fui logo! Eu queria ir, mas o meu corpo parecia que tinha um "auto-controlo" e que não me deixava ir. Tentei outra vez.

Continuava a tentar puxar uma lasca ou uma tábua, mas simplesmente não conseguia... Foi então que senti uma aragem na zona do joelho. Imediatamente sobressaltei-me.

- Merde, Merde, Merde. - comecei a saltar... pensei logo que era uma aranha. Bati com força no joelho, mas não sentia nada esquisito a tocar-me no pé.

Estava agora novamente no canto. Estar de costas para a parede dava uma certa segurança. puxei as minhas calças para cima, de modo a ver de que se tratava. Para meu reconforto era apenas uma linha de tecido das calças que se tinha desprendido. Mas aquilo poderia mesmo acontecer, e eu não queria mesmo nada aranhas entre o meu corpo e a minha roupa; só a ideia me dava fraqueza. Por isso tirei os atilhos dos meus sapatos e dividi-os em dois. Depois atei cada uma das 4 cordas em cada uma das 2 entradas dos meus braços e nas 2 entradas das minhas pernas. Estiquei então as meias para cima também, para evitar qualquer contacto com os membros inferiores.

Ponto da situação: Pânico, embora mais controlado, muitas aranhas, sem ferramenta e sem coragem. Ia ser muito difícil...

Realmente era estranho. Era inútil colocar um cadeado dentro da caixa sem nada para o abrir... A não ser que não fosse um cadeado...
Aproximei-me para ver melhor. Peguei nele e passei os meus dedos pela ranhura onde supostamente deveria caber uma chave. Que surpresa... Era falsa. Nem se quer tinha profundidade! Aha ! Já estava a descobrir qualquer coisa. Procurei por outros indícios fora do normal. Rodei, e reparei que na parte de trás tinha um botão. Como não tinha reparado nisto antes?? E um botão? Não pode ser assim tão fácil...
Ainda hesitei. O que será que aconteceria se eu clicasse? O cadeado iria abrir-se milagrosamente? Mas não havia tempo para especulações.. Sem esperar mais, cliquei.
Algo que não estava à espera, aconteceu. O cadeado abriu-se ao meio! Quer dizer... Não destrancou, apenas abriu-se e no interior dava para ver um mostrador com quatro dígitos, onde devia ser para colocar algum código... De certeza! Experimentei. Os números mudavam de acordo com os quatro botões digitais que se localizavam por baixo de cada um. Iam do 0 ao 9.
Estava bué contente e entusiasmada. Ate me lembrar que não sei o código... Shit.... What now??

BOOM!! , suou o canhão.
Equanto estava no ar, a minha vida passou, literalmente, à frente dos meus olhos.
No ar consegui mudar a minha posição horizontal para uma vertical, de maneira a colar (supostamente) no alvo.
Senti o impacto a percorrer o meu corpo todo e se não fosse o capacete, por esta altura já não teria nariz.
Fiz força para me descolar mas era escusado.

- HEY GUYS!! UMA MÃOZINHA?! - gritei, dúvido que alguém viesse a meu auxilio.

Eu sabia que tinha que estar alguém a vigiar, era obvio, só não sabia era se esse alguém me ajudaria.
Continuei a fazer força.

- OH VÁ LÁ!! ISTO É SUPER DESCONFORTAVEL!! - gritei, mais uma vez, para o vazio.

Entretanto ia fazendo força na tentativa de me descolar da parede. Era macia.

-Desta vez vou mesmo!

E então assim foi. Consegui-me pôr em cima do monociclo e avançar. Foi muito complicado, ainda por cima a muitos metros de altura. Toda a gente tem aquele receio de cair, mas mesmo tendo medo já sabia que era impossível eu cair (a não ser que quisesse, mas não era o caso) e isso era um ponto a meu favor!

Avancei, avancei, até que cheguei a uma plataforma e, finalmente, me ia ver livre do monociclo.

Olhei para a frente e só via trapézios. Observei o espaço em minha volta e vi uma cana com a ponta torta. Só passados uns momentos é que percebi que servia para puxar o trapézio..

Antes de continuar o meu percurso, sentei-me no chão, pois estava cansada e meio atordoada. Levantei-me, peguei na cana e puxei o primeiro trapézio. Quando já estava ao meu alcance, peguei nele e puxei-o para ver a resistência. Era inquebrável. Mais uma vez, a única coisa que me impedia de avançar era o medo.

Chegou a hora de me baloiçar portanto, assim aconteceu, mas houve um pequeno problema.

A prioridade agora era arranjar a "ferramenta". A madeira não parecia dar em nada... Restava-me outra alternativa... Os pregos da caixa.

A ideia agradava-me tanto como cair num lago de lava; mas tinha que o fazer. A caixa mais próxima estava a uns 7 metros. Parecia ainda estar fechada, mas era muito grande. Com o risco de ter aranhas em mente, teria que encontrar uma mais pequena. A caixa com um tamanho aceitável (se bem que continuava a ser mau) estava a aproximadamente 12 metros, mas estava no meio de outras. Uma caixa na periferia seria melhor... A uns 10 metros existia uma caixa relativamente pequena e estava na periferia, pelo que optei por esta.

Comecei a dirigir-me a ela, sempre encostado à parede, até esta ficar perpendicular à caixa. Comecei por analisá-la à distância; não queria chegar ao pé dela e depois não haver nenhum prego para retirar. A caixa parecia ser um baú. Devia ser aproximadamente 50cm por 70cm por 70cm. Não dava para perceber se eram pregos ou não, mas dava para ver pequenas elevações redondas na parte exterior. Não queria arriscar muito se não houvesse pregos... Mas a madeira serviria... Mas eu não queria uma caixa cheia de aranhas... A caixa parecia estar selada, mas nunca se sabe. Tive então uma ideia.

Comecei a correr em direcção à caixa, mas com a atenção para poder virar para trás a qualquer momento. Ao chegar ao pé da caixa, empurrei-a de modo a esta virar e larguei-me a correr de volta à parede para observar de novo a caixa.

Ok....Lauren, acalma-te..... acalma-te.... Só estás aqui há uma eternidade.... Como raio é que eu ia desvendar aquilo??? Não tinha pistas nenhumas visíveis.... E não sei se aguento muito mais neste sítio sem desmaiar.... Ohhhhhhh que Inferno!!
Levantei-me para esticar um pouco as pernas que já começavam a ficar dormentes... Olhei em volta e observei o palco preenchido de bonecos de madeira. Não havia mais nenhuma mensagem que me ajudasse... De momento só me lembrei de uma coisa a fazer.... gritar por alguém..

- Heyyyyyy!!! Alguém?? - bati com os punhos no vidro. Nada aconteceu. - Já descobri o código!!! - pensei que ao dizer isto, alguém me viesse buscar... Sometimes I'm so damn stupid.....

Estava super frustrada! Nem consegui pensar em mais nada.... Mas depois lembrei-me que já não dormia há algum tempo....

Descansei um pouco.
Deveria de estar a cerca de 1 metro do chão mas a minha altura juntava mais 1,58 metros, logo a minha cabeça estava a 2,58 metros. Isso era alto!
"Raciocina Sel, raciocina! Parece alto mas é ilusão de ótica. Não olhes para baixo, continua a fazer força e sai daí".
Continuei a tentar até que o meu braço direito se desprendeu do velcro.
Apoiei a mão livre na parede, o que me permitiu fazer mais força. Ao fim de uns 30 segundos tinha agora as duas mãos livres. Coloquei a esquerda oposta à direita e fiz força no tronco.
Soltei-me e aterrei de rabo no chão.

- Au!! - queixei-me. Não doeu muito, foi só mesmo o susto.

Levantei-me a massajar o meu traseiro dorido e decidi investigar a tenda.
Comecei pelo público de madeira que estava atrás de mim.
Tirei o fato, o capacete e os óculos e meti mãos à obra.

Quando chegou a altura de me lançar para a próxima plataforma, não me larguei e voltei para trás...

-Isto é muito alto! - disse eu nervosa.. - Nunca mais vou conseguir sair deste pesadelo!

Estava tão nervosa com esta situação...

-Podiam ter escolhido uma coisa mais simples de fazer, quer dizer, eu sei que estou na recruta mas isto era demasiado para mim! - ouvindo aquelas palavras de mim mesma achei que algo de mal se passava comigo e a única coisa que poderia contrariar aquelas palavras era ganhar coragem e lançar-me daqueles trapézios.

É muito difícil! Belive me. Mas eu quero mesmo acabar a recruta.

Para minha surpresa, a caixa, ao virar, não abriu. Estava então fechada. pensei. Mas depois lembrei-me que isso iria necessitar que eu a abrisse quando estivesse na minha posse. E podia ter aranhas. Mas prontos...

Larguei-me a correr de volta à caixa. O plano era agarrá-la e trazê-la até mim. Cheguei ao pé da caixa, agarrei-a e voltei a correr de volta para a parede. Ou o medo acrescentava peso à caixa, ou estava bem carregadinha de aranhas. Mas agora não podia voltar a trás...

Cheguei até à parede. Agora não havia duvidas, conseguia ouvir os pequenos "assobios" vindos da caixa. Tinha que a abrir agora... mas não as queria todas ali. Também não queria abrir a caixa... Mas tinha que o fazer. A minha ideia era arranjar um "contentor" para poder despejar as aranhas e depois usar a madeira.

Abri os olhos. Não tenho bem a certeza, mas devia ter adormecido... Ainda estava meio tonta. Tentei enquadrar-me na situação em que estava.
Ok.. Tinha um código para descobrir, umas correntes para destrancar e uma caixa para abrir... Será que os outros recrutas já conseguiram vencer os seus medos? Porque será que isto me estava a demorar tanto tempo....
Eu estava completamente à nora dentro daquela caixa... Parece cada vez mais pequena.... Espera aí.... A caixa estava de facto mais pequena... Não podia ser da minha imaginação!!
Lembro perfeitamente de conseguir esticar as minhas pernas no chão da caixa, ainda que fosse díficil por causa das correntes, e agora, as minhas pernas ficavam dobradas...
Ó MEU DEUS Entrei em pânico....... Isto NÃO pode acontecer!! É terrível!!!
Passado 1 minuto de agitação da minha parte, reparei num pequeno post-it colado à parede do vidro.... Tinha um desenho de um relógio.

Comecei a andar por entre a fileira de bonecos. Não me pareciam macabros, apenas sinistros. Não creio que tinham algo de mal. Aplateia estava cheia deles e com certeza eu não iria percorrer aquilo tudo.
Saí da plateia e comecei a dirigir-me para o centro da tenda.
Visto cá debaixo a plataforma ainda parece mais alta.
Segui com os olhos o trajeto que fiz quando saltei do canhão. Não me tinha apercebido de que era tão alto.
Fiquei abismada. Parecia um burro a olhar para um palácio.

- HEY!! QUEM QUER QUE ESTEJA A VIGIAR!! ACHO QUE JÁ FIZ TUDO!! - gritei.

Uma ideia assombrou-me os pensamentos. "Oh porra! E se não está ninguém a ver-me. Será que eles só vêem ver de nós quando acaba o tempo da recruta?! Não pode. Então e se alguém se magoa?". Tentei esquecer isto.
Dirigi-me novamente para a plateia. Desta vez não para investigar mas sim porque estava cansada e merecia uma sesta depois de ter sido disparada de um canhão e quase ter caído de tremenda altura quando saltava no trampolim.
Os bonecos estavam vestidos como pessoas (se calhar para imitar o público e nós o espetacúlo), por isso tirei o casaco a um e usei-o para me cobrir enquanto tentava adormecer na esperança que quando acordasse, já estaria num lugar melhor.

Respirei fundo e atirei-me outra vez.

A sensação foi horrível mas ao menos correu bem e consegui aterrar na plataforma.

Ao ver o meu próximo obstáculo, entrei (outra vez) em pânico. Estava um trampolim mesmo à minha frente e, pelos vistos, era suposto dar um salto de aproximadamente 10 metros.

Em vez de começar a pensar sobre o assunto, pus-me em cima do trampolim e comecei a saltar. Até era divertido mas quando me vinha a ideia de ter de saltar 10 metros isto perdia a piada toda...

Preparei-me para saltar fazendo balanço com pequenos saltinhos no mesmo trampolim e quando chegou a hora de avançar para o outro trampolim fui sem pensar muito no assunto.

Pela primeira vez, fui bem sucedida há primeira tentativa, mas fiquei um bocado dorida, pois não tinha aterrado muito bem no outro trampolim.

-Este foi o obstáculo mais fácil de passar - disse eu num tom de voz bastante calmo.

A prioridade era achar algo para "guardar as aranhas. A minha primeira ideia tinha sido uma caixa, mas . Pensei em cavar um buraco no chão, mas para onde olhava parecia sempre pedra sólida. Pousei então a caixa no chão para pensar um pouco mais. Tinha que ser algo o suficientemente grande para aguentar as aranhas, talvez flexível para poder pôr mais... E foi aí que me ocurreu.

- A cortina!

Voltei até ao palco, sempre caminhando junto às paredes para me afastar das aranhas. O palco tinha de facto uma cortina, que parecia velha, mas deveria aguentar...

Arranquei-la do sítio e levei-a até à caixa. Tinha agora que perceber o trinco, mas para sorte parecia ser de deslizar. Então realizei-o lentamente e tapei a caixa com a cortina. Agora era só virá-la...

Um relógio? Espera aí....infelizmente acho que sei o que quer dizer.. Nãoooo. As paredes estavam a ficar cada vez mais próximas. A caixa estava a ENCOLHER!! E eu tinha de me despachar a inserir o código no cadeado! Senão...seria literalmente esmagada.
O pânico volta, mais uma vez, a instalar-se dentro de mim... Começo a sentir dificuldade em respirar. Tento acalmar-me.. Quanto mais stressada fico, mais tempo demoro a raciocinar. Ok...até que sou inteligente.. Eu ei de arranjar uma maneira.
Quatro dígitos.... quatro dígitos... Podiam corresponder ao quê?? Hum.... Talvez ao dia de hoje!!! Sim, tinha contado os dias, um dos meus dons é a boa memória... e supostamente hoje é o último dia da recruta. Dia 5 de Março....
Aproximei-me do cadeado, e peguei nele. Inseri os números 0503... Afinal... até fazia sentido. Mas nada aconteceu. Será que me tinha enganado na contagem dos dias? Ohhhh que raiva! A caixa estava agora com as paredes laterais com cerca de 1 metro de distância.... Omg Tinha de ser mais rápidaaa! Pensei logo no ano, então tentei 2015. Mas o cadeado continuava fechado que nem um túmulo... O que mais poderia ser??
A caixa estava agora colada ao meu corpo.. Estava demasiado em pânico!! Comecei a chorar. Sim. Pela primeira vez nesta recruta, chorei.
Não tinha muito mais tempo...a caixa começava a apertar.......
Não me lembrei de nenhuma data em específico. Mas decidi experimentar pôr 1310. 13 de Outubro. Era o meu aniversário....
Ouço um CLICK. O cadeado abriu-se.

O banco estava frio, e o casaco do boneco não me ajudou muito. Fui "roubar" uma sweater a outro e vesti-a juntamente com o casaco. Agora sim estava quentinha. Deitei-me novamente no mesmo sítio, fechei os olhos (pela segunda vez) e contei os segundos até adormecer. 1800 segundos.
Não dormi muito. Estava desconfortavel ali deitada, mas ao menos estava quentinha.
Para me entreter decidi ir contar o público de um a um. 1,2,3,... "Credo que entediante que isto é! Nunca mais vejo a luz do sol outravez!", pensei. Estava a exagerar mas também estava aborrecida.

- Wow wow! Alto e pára o bairro! Isto tem que ter uma porta das traseiras! - lembrei-me.

Decidi, então, procurar a porta que me levaria até ao exterior.

Primeiro desci umas escadas, ou seja, 10 metros mas depois, já muito cansada de descer escadas e habituada de surpresas, olhei para a minha frente para ver o próximo obstáculo...

- OMG! Vou ter se saltar?? - o pior de todos! E eu a pensar que já estava a acabar...

Mesmo à minha frente estava absolutamente NADA! Ao olhar para baixo vi uma espécie de colchão. Mas o problema era que o colchão estava a 10 metros de distância!

-Queda livre?? - isto não está a acontecer, pensei eu.

Isto era mesmo mau..

-10 metros? - eu estava bastante nervosa, afinal mesmo para uma pessoa que não tenha medo de alturas, isto seria horrível! - E se o colchão não for suficientemente confortável para uma pessoa cair de 10 metros em cima dele? - isto era demasiado mau para ser verdade, por isso decidi beliscar-me  para ver se era um pesadelo... mas não, isto era real.

Antes de me atirar, olhei em volta para ver se não haviam escadas.. Não encontrei escadas, mas encontrei um copo de água. Fiquei surpreendida, mas lembrei-me que já estava com sede. Então bebi. Soube tão bem... estava bastante fresca! Comecei me a sentir-me zonza, mas antes de desmaiar lembrei-me de me atirar, afinal se eu estiver inconsciente, não haverá dor.

(Time for the big ending)

Virei a caixa. As aranhas cairam. «uffff» passou-me pela cabeça. Fechei a cortina com forma de saco. Conseguia sentir as aranhas a mexerem-se lá dentro, mas, depois de tanto tempo rodeado, não me mentia tanta impressão.

Amarrei a cortina com um nó simples e dirigi-me à caixa. Dei-lhe umas pancadinhas para avaliar a sua resistência e depois um murro forte, fazendo-a despedaçar-se. Ou era menos resistente que o palco, ou as minhas forças tinham voltado. Peguei numa das lascas, que tinha aproximadamente 20cm, e dirigi-me à cortina/saco. Era a hora. Um pequeno vómito veio-me à boca. Mas era agora ou nunca.

Desprendi o nó, tendo o cuidado de deixar uma margem generosa entre a abertura e a altura à qual as aranhas estavam. Esperei a estaca até ao fundo e retirei-a. Duas aranhas iam aparecendo espetadas e sem vida, quando voltei a baixar a estaca. Estava a ficar enjoado. Mas não ia parar agora...

Retirei a estacá por fim e voltei a fechar a cortina/saco. Pousei-a no chão. Havia apenas uma coisa que tinha que fazer...

*Slap*

Agora tinha que ser. Olhei para a estaca. Com as aranhas mortas lá espetadas, não pareciam tanto cruéis... Toquei numa, mas afastei logo o dedo. Voltei a tocar-lhe. Parecia uma criança que tinha acabado de descobrir algo novo. Não acontecia nada ao toque. Puxei-as mais para a ponta da estaca. A minha confiança estava a subir. Pus a estava na boca e retirei, mas as aranhas não vieram...

*blah*

Cuspi de imediato. Substimei a minha confiança. Aquilo ainda sabia mal pra caraças. Aproximei-me da cortina/saco e voltei a abri-la. Voltei a espetar a estava, retirei mais duas aranhas. Pu-las à boca. Contive o cuspo. Trinquei e engoli.

- Ok, é mau... Mas o empadão da minha segunda casa de acolhimento conseguia ser pior... - Não era mentira.

Voltei ao saco. Retirei duas aranhas, trinquei, engoli. Agora era uma questão de um "ciclo". A certa altura vomitei um pouco, mas à medida que se ia comendo, elas pareciam cada vez mais insípidas. Fui continuando, até acabar a cortina/saco. Via apenas mais três caixas fechadas e uma aberta. Comecei a caminhar em ddireção a elas, sem pensar muito. O truque estava em não pensar muito. E sinceramente, depois daquele tempo todo ali fechado com aranhas, a fome começava a sobrepor-se ao medo.

Abri uma caixa and "Dig in"... As aranhas não se mexiam... Se calhar morreram com a falta de oxigénio. Passou mais de uma hora, mas a caixa acabou. Decidi dar uma pausa a mim mesmo, já estava a ficar enjoado...

Foi então que tomei consciência da situação. O sono, fome e medo puseram-me numa espécie de transe, do qual não tinha plenamente consciência. Mas OMFG tinha acabado de comer aranhas. Vomitei. E voltei a vomitar. Mas hei, tinha o feito. E tinha que continuar. Vomitei outra vez. Devia estar a ficar desidratado... Mas não via água por parte nenhuma... Bem, as aranhas não eram "secas". Vomitei. Seriously? eu pensei nisso»> Eu tinha mudado...

Virei ao próximo caixote. Este era mais pequeno. Abrí-o e despacheio em meia hora. Mas agora estava plenamente consciente. Por detrás de todo o meu nojo, até sentia uma pontada de orgulho... Dirigi-me ao terceiro caixote. Este tinha um tamanho médio em relação aos outros dois... Abrí-o e novamente "Dig in". Levei cerca de uma hora e meia, pois estava constantemente a vomitar de enjoo, para além do ocasional vómito de nojo. Mas já tinha despachado os três caixotes.

Não queria acreditar... Depois de tanto tempo, o cadeado tinha finalmente aberto! Não podia estar mais contente! Desprendi os meus tornozelos das correntes, e reparei que a caixa já não encolhia, assim que coloquei o código certo, parou. Agora estava a voltar à sua posição inicial.
Ok. Próxima etapa. Sair da caixa... Não me restava muito tempo, se queria passar na recruta tinha de arranjar uma solução rápida antes que o dia acabasse...
Tentei bater nos vidros para ver se os conseguia partir, mas não dava...eram demasiado grossos. Tinha de me desenrascar, calquei todas as paredes incluindo a de cima para verificar se nenhuma estava aberta... pois dos instrutores, já tudo se espera... Mas, não. estava tudo fechado. Mordi o lábio... Estava mesmo nervosa....
Não podia perder tempo... Peguei nas correntes que anteriormente me prendiam os pés, e agora soltas, serviam perfeitamente. Segurei nelas com as duas mãos e comecei a bater no vidro over and over again ! Começou a rachar... Tava quase! Continuei. Não sabia que tinha tanta força, fui acertando mais vezes com as correntes da décima quinta vez, o vidro finalmente parte-se. Aliás....desfez-se em mil bocadinhos.

Não podia acreditar... A caixa que há algumas segundos atrás estava a enclausurar-me, estava agora no chão. Desfeita.
Consegui sentir o triunfo dentro de mim. Tinha acabado o desafio da recruta! Sem desistir!
Estava radiante, não consegui evitar sorrir de alívio. Eu estava uma desgraça e encharcada em suor devido ao calor que se estava no interior da caixa.
Caminhei o que consegui e saltei de cima do palco. Estava agora na plateia onde se situavam sentados os bonecos de madeira.

Fim da recruta

PS: Depois da sua última proeza, Kerry teve de ser conduzida ao hospital, com sérios hematomas e alguns ossos partidos. Pedro teve de fazer uma lavagem ao estômago, Selina ficou internada alguns dias devido a uma leve hipotermia, e Lauren teve de retirar alguns estilhaços de vidro que ficaram presos em diversas partes do seu corpo.