[Missão] Fecha a Boca

Era, oficialmente, a primeira missão de Pipo. Era uma missão de baixo nível, mas era a primeira e o querubim não sabia o que lhe esperava. Sentia-se ligeiramente nervoso e muito ansioso quando o avião aterrou em Inglaterra. A viagem tinha sido calma e aproveitou para reler as informações da missão e decorar algumas coisas que poderiam ser precisas.
Eram quase horas de almoço quando pisaram o solo de York. Estava um dia agradável, com o sol escondido atrás das nuvens e pouco vento. Após a aterragem, dirigiram-se ao local onde as malas dos passageiros estavam. Depois de uma ida rápida a uma casa de banho, que ficava perto da entrada do aeroporto, a equipa da CHERUB apanhou um taxi, com destino ao apartamento onde iriam ficar nos próximos tempos. O relatório que tinham dado aos agentes continha algumas imagens do edifício e do apartamento mas Pipo teve dificuldade em reconhecê-lo quando entraram num bairro pequeno com apartamentos dos dois lados da estrada.
Pipo não entrava num edifício daquele tipo desde que entrara para a CHERUB e teve uma sensação estranha ao entrar pela porta do apartamento e passar pela sala em direcção ao seu quarto. Iria partilhar o quarto com a Marty, mas este era suficiente grande e não lhe pareceu ter qualquer problema partilhar o quarto com alguém.
O apartamento era um T2, com dois quartos, um para os dois agentes, e outro para o chefe de missão, Vouga Morte, uma sala, uma cozinha e uma casa-de-banho. Parecia ser um sítio acolhedor e Pipo ficou contente ao ver uma televisão na sala.
Demoraram algum tempo a arrumar as suas coisas e a distribuir tarefas, antes de se sentarem no sofá da sala para discutirem alguns pormenores da missão.
-Bem, penso que podemos fingir ser irmãos ou primos já que as nossas parecenças não são muitas. Podia chamar-me Melanie e tu podes escolher um nome do teu agrado. Quanto aos apelidos só podemos escolher quando decidirmos se vamos ser irmãos ou primos. - Disse Marty.
- Acho que devíamos ser irmãos e o Vougan seria o nosso pai. Sempre podemos dizer que a nossa mãe morreu quando éramos mais novos e que não nos lembramos dela. - Disse Pipo. - Quanto ao meu nome, será Brandom. Brandom Harrisson. Que achas do apelido ?

Vougan estava sentado no sofá, no meio dos dois querubins, com um computador portátil e dois blocos de folhas ao lado colocados cima da mesa. Já tinham decidido os seus nomes e mais algumas coisas fundamentais, como a data de nascimento, onde nasceram e entre outras coisas que faziam parte das suas novas identidades. Preocuparam-se também em ter na ponta da língua as suas supostas histórias de vida. Vougan já tinha preparado praticamente tudo mas deixou alguns detalhes para os querubins decidirem e darem a sua opinião. Depois de escolherem os seus nomes e o seu grau de parentesco, decidiram refazer a sua história desde o início depois de Vougan a ter contado.
- Então, nascemos ambos em Everton, no centro de Inglaterra, e mudá-mo-nos para Londres quando eu tinha dois anos e o Brandom três, pois estávamos com algumas dificuldades financeiras, e a nossa mãe arranjou trabalho lá. - Começou Marty.
- A nossa mãe, de nome Chase, morreu num acidente de automóvel depois da Melanie fazer 4 anos. O nosso pai conseguiu arranjar um emprego em Londres num centro comercial, mas há pouco tempo a loja onde trabalhava fechou. - Continuou Pipo.
- Já estávamos habituados a viver em Londres quando o pai arranjou emprego em York. Mudá-mos de cidade pela segunda vez e aqui estamos nós, a recomeçar novamente as nossas vidas. - Acabou, por fim, Marty.
- Parece-me bem. Não tem nada de anormal e é fácil de decorar. Quando nos perguntarem sobre a nossa mãe só temos de dizer que morreu quando éramos mais pequenos e que não nos lembramos dela. - Assentiu Pipo.
- Então está tudo percebido meninos? Já passa da hora de almoço e ainda não comemos nada. Vamos procurar um restaurante e depois à tarde tratamos dos assuntos da missão. - Disse Vougan, antes de tirar a carteira do casaco e de a pôr no bolso traseiro das calças. - Deixem os casacos aqui. Está muito calor lá fora.

Depois de um almoço demorado num pequeno restaurante local, os querubins e Vougan voltaram para o apartamento. Estavam esfomeados e comeram até não puderem mais. Quando regressavam ao apartamento passaram por um quiosque e compraram um jornal de notícias do dia.
- Nada. - Gritou Pipo, depois de ler todas as notícias relacionadas com crimes do jornal, para que Vougan o conseguisse ouvir.
Vougan estava no quarto a guardar o resto das suas coisas e a rever novamente todo o equipamento de missão que tinha trazido. Marty entretinha-se a ler algumas informações sobre a escola para onde os querubins iriam.
- Parece que os jornais não estão a par do que se tem passado por aqui. – Disse Vougan ao entrar na sala e se sentar no sofá.
Ligou o portátil e distribuiu um relatório a cada querubim.
- Não vão ter que decorar tudo o que está nos relatórios. Leiam toda a informação sobre os suspeitos e também sobre os filhos, que no início vão ser os vossos alvos. – Disse Vougan apontando para uma imagem a cores de um rapaz que parecia ter a idade de Marty.
- Vejam também essas fotografias. Quero que tenham presentes na vossa mente a cara e a personalidade de todas as pessoas com quem vão ter de lidar.

Depois de alguns acertos sobre assuntos pendentes que Vougan tinha de tratar com os querubins, o chefe de missão informou-os sobre a escola para onde iriam.
- A escola começa na próxima semana. É o primeiro dia de aulas e têm de ir buscar os uniformes à escola. A viagem a pé demora apenas 10 minutos. Aproveitam e ficam logo a conhecer a escola. Não se esqueçam de tirar uma fotocópia dos vossos horários. Vão ficar em turmas diferentes, consoante os vossos alvos.
- Podemos tirar o dia de amanhã para tratarmos disso e ficarmos a conhecer a escola. Pode ser que encontremos alguns dos nossos futuros colegas. - Disse Pipo, olhando para algumas imagens da escola. - Parece ser uma escola decente e fica mesmo ao lado de um parque de diversões.
- E de um campo de futebol. - Disse Marty, mostrando a Pipo uma imagem da escola onde se via um campo de futebol ao fundo.
- Os miúdos devem ir para lá depois da escola. Deve ser onde se costumam reunir. - Disse Pipo.
Vougan, depois de inserir alguns dados no portátil, fechou-o e interrompeu a conversa dos dois querubins.
- Pode ser uma missão de baixo risco, mas não se esqueçam que tudo por acontecer e que quando tivermos mais pistas teremos de ser muito mais cuidadosos. Têm de agir normalmente com os vossos alvos e fazerem-se amigos deles. Foram treinados para descobrir que tipo de pessoa os vossos alvos são e comportarem-se de forma a que se tornem amigos. Não se esqueçam que a primeira impressão que temos de alguém é determinante! - Exclamou Vougan. - Alguma dúvida ?
- Só uma coisa. - Disse Pipo. - Não há fotos mais recentes da Natasha Nyree ? Parece que é a única que não está comprometida.
Todos deram uma pequena risada, de forma descontraída.
- Vais ter de esperar para a ver. - Disse Vougan, levantando-se do sofá. - Podem ficar aqui esta tarde a descansar que eu vou sair. Amanhã é sexta e vão ter de ir à escola.

No dia seguinte, os querubins visitaram a escola de Green Park. Era um escola grande, de recinto fechado. Tinha algumas parecenças com um colégio, mas as paredes cheias de teias de aranha e com bolor faziam-nos voltar à realidade. Um homem pequeno e com um bigode por fazer cumprimentou-os quando passaram pelo portão principal. Havia um campo desportivo onde os alunos faziam educação física e várias mesas rodeadas de cadeiras, como que uma esplanada, por baixo de uma parte coberta devido à chuva. Haviam 3 edifícios principais cada um a seguir ao outro, como se tratasse de uma fila.
Ao entrarem no bloco A, o primeiro edifício, depararam-se com vários placares repletos de folhas afixadas. Por todo o edifício, estavam funcionárias de limpeza que se encarregavam de limpar o chão. Os querubins seguiram pelos azuleijos azuis e brancos até aos placares. Depois de uma procura rápida, encontraram um mapa da escola e a informação sobre as turmas e os horários. Pipo procurou pelo nome de "Brandom Harrison" nas listas de nomes organizadas por turmas. Não teve de perder muito tempo porque iria ficar na turma A, assim como Marcus Brook e os gémeos Ben e Natasha Nyree. Pipo fez um ligeiro sorriso ao ver o último nome escrito na lista.
Em baixo, estava o horário da sua turma. Copiou para uma folha de papel o horário e apontou as salas onde ia ter as determinadas disciplinas, assim como Marty, que já se preparava para ir visitar o resto da escola.

Depois de jantarem, Vougan e os querubins estavam sentados no sofá da sala com a televisão ligada. A escola começaria daqui a 2 dias e decidiram aproveitar o tempo que restava para descansarem. Porém, Vougan tinha outros planos para eles.
- Quando estava a vir para casa, antes do jantar, passei por algumas pessoas que estavam a acabar de arrumar os preparativos para a festa que costumam organizar todos os anos, antes do período escolar ter início. Parece que é uma espécie de festa onde todos os miúdos se reúnem. Há barracas de comida e vários locais onde fazem desafios e jogos. A família dos miúdos também costumam ir.
- Isso significa que não vamos passar o resto da noite aqui ? - Perguntou Marty ao levantar-se.
- Sim. Em princípio, os nossos alvos devem lá estar. Por isso, acho melhor irmos lá dar uma vista de olhos. Nunca se sabe os frutos que podemos recolher. - Disse Vougan.
- Pode ser que haja uma oportunidade para nos começarmos a integrar. - Assentiu Pipo.
- Isso mesmo. Esse vai ser o principal objectivo desta noite. - Disse Vougan, antes de pegar nas chaves do seu Seat Ibiza e colocar o casaco às costas.

A festa tinha lugar num parque enorme no centro da cidade. Várias pessoas, que deviam ser familiares dos jovens, estavam de pé, ao lado do portão principal do parque, a falar e a cumprimentar quem entrava.
Vougan não demorou muito tempo a encontrar o parque iluminado por dezenas de holofotes. Eram nove da noite quando o chefe de missão estacionou o carro num terreno aberto ocupado por mais veículos.
- Obrigado por terem vindo. - Saudou uma mulher alta com um boné velho da Nike. - Caso não saibam, as casas-de-banho são mesmo aqui ao lado.
Várias barracas que vendiam comida tinham filas enormes de miúdos esfomeados. Em frente às barracas, estavam mesas e cadeiras, onde os jovens se podiam sentar e comer os seus hambúrgueres ou cachorros-quentes.
Do outro lado do parque residia a diversão. Miúdos dos 10 aos 16 anos divertiam-se a jogar aos vários jogos disponíveis. Havia jogos de tiros, quem conseguia dar um maior número de saltos à corda, quem aguentava mais no touro mecânico e até havia uma barraca onde se podia jogar xadrez e ao braço de ferro.
Os querubins e Vougan já tinham jantado em casa, por isso, depois de uma passagem rápida por todas as barracas que vendiam comida, na esperança de avistarem os seus alvos, seguiram para o lado onde estava a maior parte dos jovens.
- É surpreendente a quantidade de jovens que aqui estão. A maior parte deve ir para a mesma escola que nós. - Disse Marty, ao olhar para todas as direcções e só ver rapazes e raparigas que pareciam ter a sua idade.
- Aquele jogo parece interessante. Vou lá dar uma vista de olhos. - Disse Pipo, apontando para dois rapazes que estavam a fazer um jogo com bolas de andebol. O objectivo era derrubar os pinos que estavam empilhados à sua frente.
Marty ficou para trás, com Vougan, enquanto Pipo se dirigia à barraca onde estavam mais 5 rapazes. Pareciam ser todos mais novos e estavam a divertir-se imenso. Quando Pipo chegou à barraca, ouviu alguns tiros muito próximo dele. Olhou para o lado, de onde lhe pareceu terem saído os disparos.
De arma em punho, rabo-de-cavalo, calças de fato-de-treino e de camisola larga da Carhartt, estava uma rapariga concentrada e focada nas latas vazias de refrigerante pousadas quatro metros à sua frente. Olhou novamente para as latas, fez mira com a espingarda pesada e carregou no gatilho. Três balas de plástico romperam o ar e embateram nas latas que ainda estavam de pé.
- Cinco tiros, cinco latas. - Gritou o homem que estava encarregue de organizar e controlar aquela barraca.
Pipo ficou admirado. A rapariga tinha demonstrado uma precisão incrível ao acertar todos os tiros. Todos os jovens à volta soltaram interjeições de admiração.
- Fácil. - Disse a rapariga, voltando-se para os jovens e ficando de costas para Pipo. - Alguém é capaz de fazer igual ?
A rapariga parecia bastante arrogante. Era do tamanho de Pipo e o cabelo longo era de um castanho forte. O que a rapariga tinha acabado de dizer, soou de um modo tão provocatório, que Pipo não resistiu em se intrometer. Avançou em direcção à rapariga e, com esta ainda de costas, pegou no cano da espingarda e tirou-a da mão da rapariga. Surpreendida, a jovem virou-se e deu de caras com o querubim.
- Então !? Que pensas que estás a fazer ? - Exclamou a rapariga de forma estridente.
Quando a rapariga se virou, Pipo ficou completamente surpreendido. Disfarçou imediatamente o seu espanto, percebendo que poderiam achar estranho. Era Natasha Nyree. Pipo viu algumas fotos antigas dela que constavam nos relatórios que lhe tinham sido fornecidos. Mas ela não tinha mudado muito e Pipo percebeu imediatamente que se tratava de um dos seus alvos.

- Desculpa... Só queria tentar. - Disse Pipo, sentido um arrepio a percorrer-lhe o corpo todo. O querubim não sabia o que dizer e começava a sentir-se envergonhado.
A rapariga soltou uma gargalhada.
- Quero ver do que és capaz. - Disse Natasha Nyree, em tom de gozo.
Pipo não respondeu. Ainda estava nervoso pelo que tinha acabado de acontecer. Mas, assim que se virou para as latas já colocadas no sítio pelo responsável, apercebeu-se que tinha de se concentrar para derrubar as cinco latas.
A espingarda não era tão pesada como as que já tinha utilizado na CHERUB e as latas estavam relativamente perto dele. Pipo tinha recebido treino suficiente para se considerar um bom atirador. Já tinha treinado a distâncias muito maiores e acertar nas cinco latas seria fácil para qualquer agente da CHERUB.
Concentrou-se, meteu-se em posição e disparou cinco tiros certeiros em menos de 20 segundos. As latas caíram todas as chão.
Natasha Nyree não queria acreditar. Ela também conseguiu acertar em todas as latas, mas demorou muito mais tempo a preparar cada tiro.

- Onde aprendeste isso ? - Perguntou Natasha Nyree, assim que Pipo entregou a espingarda a outro miúdo e se virou para ela.
Não era normal um rapaz da idade de Pipo saber disparar como ele acabara de disparar. Porém, Pipo tinha a desculpa perfeita.
- Caça. - Respondeu o querubim, enquanto os miúdos que estavam perto da barraca continuavam a aplaudir. - Eu e o meu pai íamos várias vezes à caça, antes de nos mudarmos para aqui.
Em questão de minutos, Pipo conheceu Natasha e conseguiu surpreendê-la. Agora começara a falar com ela. Natasha estava com duas amigas que ficaram entre os miúdos quando ela e Pipo se afastaram da barraca.
- Quando é que te mudaste para cá ? Nunca te tinha visto. - Disse Natasha, enquanto tirava o elástico que prendia o cabelo e o deixava cair sobre os ombros. Tinha cabelo longo e meio encaracolado e estava muito bronzeada.
Pipo achava que ela apenas continuara a falar com ele porque tinha realmente ficado surpreendida pelo que ele acabara de fazer.
- Cheguei há uns dias. O meu pai arranjou emprego aqui e por isso tivemos de nos mudar. - Disse Pipo. - Já agora, o meu nome é Brandom.
De repente, um grito feminino sobressaltou-os.
- Natashaaaa! Temos de ir! - Gritou uma das amigas de Natasha.
- Desculpa, mas tenho de ir embora. A escola está quase a começar e não me posso deitar tarde. - Sorriu a rapariga para Pipo. - Vemo-nos por aí, Brandom.
Pipo podia ter introduzido o tema da escola, mas como Natasha tinha de ir embora e como sabia que ia ser da sua turma, achou que teria muito mais oportunidades para poder falar com ela.
Natasha foi ter com as amigas e Pipo ficou sozinho ao pé da barraca onde tinha estado. Tinha fome, mas primeiro queria encontrar Vougan e Marty. Passou por mais algumas barracas, sem avistar os seus companheiros nem nenhum dos seus alvos, que poderiam estar por ali.
Tirou o telemóvel do bolso das calças de ganga e marcou o número de Marty.
- Estão onde ? - Perguntou Pipo.
- Estamos ao pé da última barraca que vende comida. Por incrível que pareça, o Dominic Brook, o Stephen Moll e a Ellie Nyree estão os três juntos, mesmo na mesa à nossa frente. Parece que são bastante amigos, assim como os seus filhos. Riem bastante alto e estão fartos de pagar bebidas uns aos outros. - Disse Marty, a falar baixo para que não a pudessem ouvir.
- Já vou aí ter. - Disse Pipo, antes de desligar a chamada e colocar o telemóvel no bolso.
Quando chegou à esplanada completamente cheia, sentou-se na cadeira vazia ao lado de Vougan.
- Viste alguém ? - Perguntou o chefe de missão.
- Conheci a Natasha Nyree. - Disse Pipo, com um enorme sorrido no rosto. - Conto-vos o resto em casa, porque é uma longa história. De resto, não vi mais ninguém.
- Grandes progressos. - Disse Marty. - Os outros devem andar por aí, já que os pais ainda cá estão.
- Ou já foram para casa, assim como a Natasha. - Disse Pipo.
- Então o nosso trabalho por hoje está feito. - Disse Vougan, ao levantar-se da mesa.
Os querubins seguiram-no até ao carro e foram para casa.
Depois de Pipo lhes ter contado o que acontecera e como conhecera Natasha, os querubins foram dormir. A escola começaria em breve e a verdadeira missão começava na segunda-feira.

O fim-de-semana passou rápido. Dormiam até às dez, tomavam o pequeno-almoço numa pastelaria ao lado do apartamento e até à hora do almoço faziam exercícios e davam voltas ao bairro. Durante a tarde de Sábado, Vougan e os querubins foram ao shopping center no centro da cidade comprar o que faltava na casa e o material escolar dos querubins. A tarde de Domingo foi passada a ver televisão e a fazer alguns exercícios. À noite, sentavam-se todos no sofá e conversavam sobre os mais diversos assuntos, destacando-se a missão. Deitavam-se por volta das dez e meia, para descansarem o necessário.
Os querubins acordaram às sete e meia com o toque do despertador. A escola começava às oito e meia, por isso tinham tempo suficiente para se despacharem e chegarem à escola antes de dar o primeiro toque. Depois de tomarem um duche rápido, os querubins vestiram-se e arrumaram a mochila da escola. Vougan já se encontrava de pé à frente do balcão da cozinha a preparar os lanches para os querubins comerem na escola, quando Pipo e Marty entraram na cozinha. Encheram ambos uma tigela com leite e cereais e comeram tudo até ao fim. Depois, arrumaram os lanches nas respectivas mochilas e despediram-se de Vougan, antes de saírem pela porta do apartamento e descerem as escadas até ao rés-de-chão.
Eram oito e dez quando saíram de casa. Vougan podia-os levar de carro mas a viagem a pé não demorava muito tempo e não valia a pena. Apenas quando estivessem atrasados.
Passado dez minutos, chegaram à escola. Alguns carros paravam e os miúdos saiam, mas a maior parte dos alunos ia a pé.
A maior parte das aulas de Pipo eram dadas numa sala no bloco A. Era bom, porque assim não tinha de levar a sua mochila para o intervalo e podia deixá-la na sala. Por sua vez, a sala de Marty ficava no bloco B, no andar de cima da sala dos professores.
Ao entrarem no bloco A, Marty despediu-se de Pipo, quando este virou para a direita, em direcção às escadas.
- Até logo e boa aula. - Disse Marty. - Encontra-mo-nos onde no intervalo?
- Obrigado e igualmente. Pode ser no bar. - Disse Pipo.
Pipo subiu as escadas e olhou para as várias portas à procura da correcta.
- A26. - Disse mentalmente, quando encontrou a porta com vários miúdos já à sua frente.
Pipo reconheceu Natasha, Ben e Marcus ao aproximar-se da porta.
Estavam todos empolgados pelo início da escola, pois iriam estar com os amigos todos os dias. Quando Pipo chegou ao pé deles, Natasha reconheceu o querubim e ficou admirada.
- Por aqui ? - Perguntou ela, expressando a sua admiração. - Também és do 8ºA ?
- Sou. - Sorriu Pipo. - Não me digas que vamos ficar na mesma turma... Que coincidência!
- Podes crer! - Exclamou Natasha, quase a gritar, enquanto soava o toque de entrada. Depois, prosseguiu, enquanto os outros alunos começavam a entrar na sala, na qual a professora de Ciências já se encontrava.
- Conheces mais alguém da turma ? Se não, podes sentar-te ao meu lado. - Disse a rapariga ao entrar na sala de aula.
- Só te conheço a ti. - Disse Pipo, antes de se sentar numas das mesas de trás, ao lado da janela e de Natasha.
A aula correu normalmente. A professora de Ciências era a directora de turma e falou-lhes das coisas habituais que são abordadas no início do ano lectivo. A turma não era muito barulhenta, mas ouvia-se sempre alguém a falar. A professora também não era muito exigente e permitia que isso acontecesse, sem qualquer repreensão. Natasha e Pipo passaram a aula a falar e a dar pouca importância ao que era dito pela professora. Natasha falava abertamente sobre tudo e parecia ser uma rapariga bastante simpática, o que contrariava a primeira impressão que Pipo teve dela. Era também bastante sociável. Parecia que se conheciam há muito mais tempo, o que fez Pipo pensar que era um grande avanço na missão, pois a missão acabara de começar e ele já se considerava amigo de um dos seus principais alvos. Assim, seria mais fácil aproximar-se dos restantes alvos, pois são todos amigos de Natasha e apartir daí, estabelecer uma relação com todos. Deste modo, seria mais fácil aproximar-se dos seus pais.
O toque de saída soou assim que a professora acabou de falar sobre a matéria a leccionar durante o ano na sua disciplina.
- Tenho de ir à secretaria. - Disse Natasha, já fora da sala de aula. - Mas no próximo intervalo, se ainda não conheceres a escola, eu posso fazer-te uma visita guiada.
Pipo soltou um riso espontâneo.
- Parece-me bem. - Assentiu Pipo. Já conhecia a escola porque não era a primeira vez que ali estava, mas não podia perder uma oportunidade de estar com Natasha e de começar a fortalecer a sua relação. - Vemo-nos daqui a 20 minutos, então.
O primeiro intervalo era de 20 minutos e Pipo achava que era tempo suficiente para comer e falar com quem quisesse. Desceu as escadas e passou pelo bloco B em direcção ao bar que ficava no bloco C. Marty estava sentada num banco mesmo ao pé da entrada para o bar, em frente às duas filas enormes de miúdos à espera de serem atendidos pelas funcionárias com aventais e luvas, que começavam a ficar desesperadas pela quantidade de miúdos que tinham de atender.
Pipo sentou-se ao lado de Marty, que já tinha tirado o seu lanche da mochila.
- Como foi a primeira aula ? - Perguntou Pipo, ao sentar-se e retirar também o seu lanche.
- Normal... São todos calmos e parecem ser bastante aplicados. A Rebecca Nyree sentou-se ao lado do Leon Moll, como era de esperar. Parecem ser um casal de namorados bastante divertido. A Olivia Brook sentou-se sozinha numa mesa perto da janela. Não falou com ninguém a aula inteira e, para ser sincera, até cheguei a achar que ela estava triste. Ficou mesmo na mesa à minha frente.
- Por algum motivo ela parece estar triste. - Disse Pipo.
- Acho que vou meter conversa com ela. É uma boa oportunidade. - Disse Marty, ao dar uma trinca na sandes de manteiga e fiambre. - E como correu a tua aula ?
- Sentei-me ao lado da Natasha. O Leon e o Marcus sentaram-se juntos. Falámos a aula inteira. É bastante simpática e no próximo intervalo vai-me mostrar a escola, apesar de já a conhecer. - Disse Pipo, antes de dar três goles seguidos no ice-tea de manga.
O toque de entrada para a segunda aula tocou e os querubins acabaram de comer e foram novamente para as salas de aula.
No segundo intervalo, Natasha e Pipo deram uma volta à escola, como a rapariga lhe prometera.
O resto do dia correra normalmente. Os jovens continuaram a falar durante as aulas e Pipo, Marty e Natasha foram almoçar juntos. Tornaram-se os três amigos e parecia estar a dar tudo certo.
Depois das aulas da tarde, Vougan foi buscar os querubins à escola.

Era sexta-feita. O fim-de-semana estava a chegar e a primeira semana de aulas tinha passado rápido. Os querubins começaram a socializar e a interagir com Natasha e, posteriormente, com o resto dos seus amigos, nos quais se incluem os seus alvos.
Eram quatro horas da tarde e o sol ardente torrava as cabeças desprotegidas dos jovens sentados num banco perto da entrada principal da escola. Pipo, Marty, Leon Moll, os irmãos Brook, Nyree e Mónica, uma rapariga baixa de cabelos castanhos da turma de Marty, estavam a conversar sobre a primeira semana de aulas.
- Não devias ter feito aquilo, Marcus! - Exclamou Olivia, a irmã de Marcus, quando soube que este respondera mal a uma professora e que tinha ido falar com o director.
- Deram-me apenas um aviso, por isso, não há problema. - Disse Marcus, piscando um olho à sua irmã mais nova, de modo provocatório.
Pipo e Marty, depois de terem almoçado com Natasha na segunda-feira, foram conhecendo os outros jovens e já faziam parte do grupo. Felizmente, deram-se todos muito bem. Foram almoçar várias vezes e até já tinham falado na possibilidade de um dia irem a casa uns dos outros, jogar playstation ou fazer os trabalhos de casa.
Depois de alguns minutos de conversa, o grupo decidiu ir para o campo desportivo que ficava ao lado da escola. Era lá que a maior parte dos alunos da escola se encontrava depois das aulas.
Era a primeira vez que os querubins iam ao campo desportivo. Os relatos dos outros miúdos descreviam aquele lugar como agradável, onde se podia passar uma tarde a namorar ou a jogar futebol ou basquetebol.
Quando lá chegaram, estavam apenas alguns rapazes, que pareciam ter aproximadamente a idade deles, a jogar futebol. O campo desportivo resumia-se a um campo com as medidas de um campo de futsal, com duas balizas e cestos de basquetebol. Tinha ainda pequenas bancadas de cimento em volta do campo. Estavam alguns rapazes e raparigas sentados nas bancadas, cobertas pela sombra que árvores altas, plantadas estrategicamente, lhes proporcionava.
Por detrás das bancadas detrás de uma baliza, ficava um café.
- Querem jogar futebol ? - Perguntou Marcus, assim que chegaram ao campo.
- Por mim tudo bem. - Sorriu Pipo. Desde pequeno que jogava futebol e, antes de ingressar na CHERUB, chegara mesmo a participar em competições.
Os outros rapazes concordaram.
- Então, enquanto vocês jogam, nós vamos ao café. - Disse Rebecca Nyree, depois de perguntar às raparigas o que queriam fazer.
- Melanie, podes comprar uma garrafa de água para mim ? - Perguntou Pipo, antes da querubim se juntar ao resto das raparigas que se dirigiam para o café.
Os rapazes formaram uma equipa e jogaram contra quatro rapazes que já estavam no campo. Os restantes ficaram a ver e a apoiar os amigos.
Passado uma hora, todos os rapazes estavam cansados e a suar. Deram o jogo por terminado assim que chegaram mais jovens que também queriam jogar. Por essa altura, as raparigas já estavam na bancada a conversar e a rir da figura dos rapazes.
- Estão todos suados! - Exclamou Olivia, ao ver as gotas de suor que escorriam pela cara de Ben Nyree, quando os quatros rapazes subiram alguns degraus e foram ter com as raparigas.
Marty deu a garrafa de água a Pipo, e este bebeu-a toda. Ficava sempre cansado depois de um jogo de futebol. Costumava dar o máximo e esforçava-se imenso. A roupa estava colada ao corpo e precisava de um banho.
Depois do jogo de futebol acabar, os amigos despediram-se uns dos outros e foram para casa. Marty telefonou a Vougan para os ir buscar, pois Pipo estava demasiado cansado para ir a pé para casa.

Depois de chegarem ao apartamento, os querubins foram tomar banho. A temperatura dos últimos dias tinha sido muito elevada e, por causa disso, o apartamento encontrava-se bastante quente.
- Espero que este tempo se mantenha até ao fim da missão, pelo menos. - Disse Pipo, antes de secar os cabelos molhados com uma toalha pequena.
Marty estava sentada na sua cama, a ler um revista de moda que tinha comprado para se entreter.
- Isso só seria bom para a missão. Assim podemos continuar a ir para o campo desportivo com eles depois das aulas. - Disse Marty, já vestida, ao tirar os olhos da revista e olhar para o querubim.
- Venham jantar! - Gritou Vougan da cozinha.
O jantar era douradinhos com arroz. Era uma das comidas preferidas de Pipo e ficou com ainda mais fome assim que viu os pratos cheios.
- Como correu o dia ? - Perguntou Vougan, quando os querubins já tinham comido quase tudo.
- Fomos ao campo desportivo depois das aulas. Os rapazes jogaram futebol e as raparigas foram ao café ao lado do campo. Estamos todos os dias com eles e temos uma relação bastante boa. - Respondeu Marty.
O som de um telemóvel a tocar soou da sala quando os querubins acabaram de comer. Era o telemóvel de Pipo e lia-se o nome "Natasha" no visor. Depois de uma breve conversa, Pipo regressou à cozinha.
- Era a Natasha. Diz que amanhã a mãe dela vai estar fora o dia todo e como amanhã é sábado, decidiu convidar alguns amigos para irem passar a tarde à piscina da sua casa, incluindo eu e a Marty. - Disse Pipo, assim que entrou na cozinha.
- Mas isso é fantástico! - Exclamou Marty.
- Se os pais vão estar fora, é uma grande oportunidade para vasculharem a casa. O MI5 tem a casa, o telefone e os telemóveis sob escuta, mas nunca tiveram acesso aos documentos dos suspeitos. Como amanhã passarão a tarde na casa deles, terão muitas oportunidades de descobrirem documentos importantes.
- Então, amanhã, o que temos de fazer é procurar documentos da Ellie Nyree. - Disse Pipo.
- O MI5 pensa que a pessoa que forneceu informações aos traficantes tenha recebido muito dinheiro por isso. O MI5 tem acesso também a várias contas bancárias, mas não tem como saber se eles têm alguma conta noutro país ou em outro nome. Deste modo, é muito importante terem acesso aos documentos dos suspeitos, pois podem conter informação essencial na resolução da missão.
- Basta levar duas máquinas fotográficas, por precaução, e também blocos de notas. - Disse Marty.
- Não vão precisar de mais nada. - Assentiu Vougan. - Pela informação que temos, as portas das casas dos suspeitos são fáceis de abrir, pelo que não precisam de nenhum equipamento em particular. Se precisarem de abrir alguma porta, como a de um escritório, por exemplo, e não tiverem maneira de arranjar a chave, podem sempre usar o truque do clip. Portas fáceis, abrem-se com truques simples.
- A que horas é para ir ? - Perguntou Marty, ao levantar-se da mesa e colocar o prato no lava-loiça.
- Às três. - Respondeu Pipo.
- Não se esqueçam de fotografar todos os documentos que acharem interessantes ou estranhos. - Disse, por fim, Vougan.
Depois do jantar, os querubins ficaram a ver televisão e a comer gelado. Às dez horas, foram para o quarto e arrumaram logo tudo o que iam levar para a casa dos irmãos Nyree numa mochila.
Juntamente com as máquinas fotográficas, os blocos de notas e canetas, guardaram duas toalhas, protector solar e fatos de banho alternativos.

Depois do almoço, Vougan levou Pipo e Marty à casa dos Nyree. Era uma vivenda grande, com dois andares, e um grande jardim com uma piscina no meio. A relva verde ocupava o resto do terreno, delimitado por uma vedação constituída por tábuas da madeira.
Os querubins entraram pelo portão principal já aberto, que dava acesso ao jardim e à entrada da casa. Eram três e cinco da tarde quando os querubins chegaram e já estavam alguns miúdos na piscina e de volta de uma mesa com comida e bebidas.
- Olá! - Exclamou Ben Nyree, quando Pipo e Marty chegaram ao pé das cadeiras onde mais alguns miúdos estavam sentados. Pipo e Marty reconheceram praticamente todos, pois andavam na mesma escola.
Os querubins cumprimentaram todos os presentes, puseram a mochila e o resto das suas coisas debaixo de uma árvore pequena e foram para a piscina.

Mais tarde, Pipo, Marty e Rebecca Nyree deitaram-se de barrigas para baixo nas toalhas e ficaram a conversar e a ver os outros miúdos, muito divertidos, na piscina.
Rebecca ficou a apanhar sol, enquanto Pipo e Marty foram à casa-de-banho. Agora que estavam todos na piscina e Rebecca estava na toalha virada para o sol e de olhos fechados, os querubins tinham caminho livre. Natasha tinha-lhes dito que não estava ninguém em casa, o que facilitava o trabalho deles. Depois de perguntarem onde ficava a casa-de-banho a Rebecca, Marty esgueirou-se para apanhar a mochila de Pipo, enquanto este entrava em casa.
A casa-de-banho ficava perto da entrada, por isso foi fácil encontrá-la. Como tinham saído da piscina à pouco tempo, mudar de fato-de-banho era uma precaução. Assim não molhariam o chão por onde passassem. Depois de Pipo trocar de calções e Marty de biquini, que eram praticamente iguais aos que tinham vestidos anteriormente, secaram os pés e saíram descalços para um corredor largo.
- Não te esqueças que não encontrámos a casa-de-banho e que viemos à procura, para o caso de aparecer alguém. - Disse Pipo para Marty.
O andar de cima eram onde estavam os quartos, outra casa-de-banho e uma sala pequena. No andar de baixo, onde os querubins estavam, ficava uma sala grande, a sala de jantar, a cozinha, a casa-de-banho e uma sala pequena com um computador e uma secretária.
Depois de uma volta rápida pelo andar de cima, pois era menos a probabilidade de andar ali alguém, uma vez que estavam todos na piscina e se os encontrassem lá seria pior, os querubins desceram as escadas e começaram a procurar pelas várias divisões que iam dar ao corredor onde se encontravam novamente.
O único sítio que os chamou à atenção foi o pequeno compartimento que ficava ao lado da sala de jantar. Tinha uma pequena televisão em cima de um móvel de madeira, uma secretária com um computador fixo e várias estantes. Felizmente, a porta abriu quando Marty girou a chave que estava na fechadura. Clac, fez a fechadura. E a porta abriu-se.
Pipo deu alguns passos para a frente e pegou na sua mochila que Marty tinha ao ombro. Tirou uma câmara fotográfica e um bloco de notas.
- Fica a vigiar. Se ouvires alguma coisa, como passos, fecha a porta e inventa uma desculpa por estares aqui sozinha. - Disse Pipo, antes de entrar rapidamente na pequena sala.
A sala estava iluminada pela luz do dia. Pipo olhou de relance para o computador na secretária. Podia ligá-lo e ver o que continha, mas perderia muito tempo, apesar de ser um às em física e informática.
Pipo olhou para detrás da secretária e viu um emaranhado de fios. Depois, ficou a observar a parte detrás do computador, por onde ligavam os fios, e não demorou muito tempo a perceber qual era o da internet. Como o computador tinha internet por cabo e não via wireless, Pipo olhou novamente para o que estava em cima da secretária ao lado do monitor. O fio da internet estava ligado a um modem, que estava entre o monitor e uma impressora. Pegou no modem e analisou a parte de trás. Tirou o bloco e a caneta do bolso dos calções e escreveu uma sequência de números e letras que correspondiam ao IP da internet. A partir do IP, Vougan poderia ter acesso ao computador de Ellie com a maior das facilidades.
Só faltava procurar nas estantes, que era o único sítio onde poderia estar algo de interessante. Abriu umas pequenas portas de vidro e retirou vários livros pequenos que continham folhas soltas. Depois, via o que continham e fotografava aquilo que achava mais interessante. Quando acabou de revistar tudo e fotografar o essencial, voltou a guardar tudo nos bolsos dos calções.
- Despacha-te. - Disse Marty, de alerta. - Acho que vem aí alguém!
Um outro miúdo, que era da turma de Marty, tinha ido à casa de banho.
Pipo saiu rapidamente da sala e os querubins apressaram-se a andar na direcção da porta de entrada.
Quando voltaram ao jardim sentiram o calor da tarde. Tinham demorado apenas vinte minutos. Não tinham tido muito trabalho e agora tinham o resto da tarde para se divertirem.
Pipo passou o resto da tarde na piscina, a jogar à bola, a comer e a conversar com Natasha. Por sua vez, Marty entretinha-se a falar com o Marcus e a apanhar banhos de sol.
Às sete horas, os irmãos Nyree mandaram todos os convidados irem embora, porque os seus pais chegariam em breve e ainda tinham de arrumar e limpar tudo.
Pipo e Marty, depois de se despedirem de todos e contentes pelo trabalho que tinham realizado, foram a pé para o apartamento.

No caminho para casa, algo inesperado aconteceu.
Quando Pipo e Marty já tinham percorrido metade do caminho, ao virarem uma esquina, depararam-se com uma situação estranha. Estava um rapaz deitado no meio do passeio, gemendo com dores.
Pipo e Marty correram até ele e ficaram estupefactos quando perceberam que o rapaz estendido no chão era Leon Moll.
- Ei, Leon! - Disse Pipo, a olhar em volta. - Que se passou ?
Os querubins socorreram-no logo de seguida. Não tinha ferimentos graves, mas tinha alguns arranhões e a cara inchada.
- Três rapazes, que pareciam ter uns 15 ou 16 anos, cercaram-me e depois bateram e roubaram-me. - Disse o Leon em esforço, tentando-se levantar.
- Para onde foram ? - Perguntou Marty.
- Não vi. Desapareceram logo de seguida, quando eu estava no chão. Nunca os tinha visto. - Disse Leon, já de pé.
- Anda, nós levamos-te a casa. - Disse Pipo, colocando o braço de Leon à volta das suas costas. - Tens é de nos dizer o caminho.
- Vou avisar o pai. - Disse Marty, antes de pegar no telemóvel e mandar uma mensagem a Vougan.

A casa de Leon Moll era uma vivenda normal, situada num bairro pequeno. O rapaz de 12 anos vivia apenas com os seus pais, Stephen Moll e Chloe Ona Moll.
Leon tocou à campainha, assim que chegaram à porta de entrada. Uma mulher, que devia ser a mãe de Leon, veio à porta.
Quando a abriu, entrou em choque. Pipo ainda segurava Leon e Marty estava ao lado deles.
- Que te aconteceu, filho !? - Perguntou Chloe, aflita, sem saber o que fazer. Quando voltou a si, pegou em Leon, e disse a Pipo e a Marty para entrarem.
Chloe foi chamar Stephen que estava a ver televisão no quarto, enquanto os jovens se sentavam num sofá grande na sala de estar.
Passado alguns segundos, Stephen, um homem novo e com um físico bastante surpreendente, muito musculado, já se encontrava sentado numa cadeira a falar com Leon, Marty e Pipo. Depois, apareceu Chloe com um saco de gelo e meteu-o na cara inchada do filho.

- Vou falar com os meus colegas da polícia para ver o que eles podem fazer. - Disse Stephen, depois de Pipo e Marty lhe explicarem o que se tinha passado.
- É melhor... - Comentou Marty, olhando novamente para Leon para ver o seu estado.
Leon parecia bastante preocupado.
- Não é preciso, pai. É normal haver destas coisas por aqui e são rapazes de fora, por isso não vai dar em nada. - Disse Leon, preocupado com as represálias que podia vir a sofrer se os rapazes descobrissem que ele tinha ido à polícia.
- Não vale a pena discutir isso, Leon! Esses vagabundos têm de pagar pelo que fizeram!
Leon abanou a cabeça, um pouco triste. As suas mãos tremiam ao segurar no saco de gelo. Não tremia de frio, mas sim de medo.
Stephen levantou-se apressadamente do sofá e pegou num casaco castanho que estava pendurado nos cabides da sala e tirou as chaves do carro do bolso do casaco.
- Onde vais ? - Perguntou Chloe, muito abatida por toda a situação que a sua família estava a passar.
- À polícia. - Respondeu Stephen, antes de bater com a porta de saída.
Chloe percebeu que tinha de dizer alguma coisa para mudar o ambiente tenso que se tinha estabelecido na sala.
- Não vale a pena falarmos mais nisto, a polícia que faça o resto e não serve de nada massacrar-mo-nos com esta situação. O importante é ficares bem. - Disse Chloe, olhando depois para Pipo e Marty. - Vocês podem ficar mais um bocado, se quiserem. Acho que seria bom para o Leon ter a companhia de amigos nestes momentos.
- Obrigado, mãe. - Agradeceu Leon, levantando-se do sofá e caminhando sobre o chão frio até às escadas.
Subiram os três e Leon levou-os para o seu quarto.