Tutto sarà distrutto

Ainda me sentia num sonho, a recruta tinha acabado há pouco tempo e, em menos de nada, estava em Itália para a minha primeira missão e o facto desta ser de alto risco, era algo que me deixava extremamente entusiasmado. A Diana e o Finnick também ali estavam, não sabia bem o que achar disso, se era algo bom ou mau, certamente ver caras conhecidas era sempre bom, mas depois do que passou na missão e do que me fizeram, não tinha bem a certeza disso, apesar de saber perfeitamente que eram só personagens, mas mesmo assim ainda me davam arrepios.
Depois de chegarmos ao Hotel, o Blaine e o Vince começaram por explicar, mais uma vez, o que tínhamos de fazer e quais eram os objectivos, pedindo-nos, depois, para criar uma nova identidade, que havíamos usar durante a missão. Enquanto falavam, o Finnick olhou para mim.
- Tu - disse ele - Ficas comigo! - continuou, dando uma breve gargalhada.
- Uh, oka... - respondi, até ser interrompido.
- Afinal de contas temos que partilhar o quarto. Já escolheste a tua personagem!? - perguntou o rapaz, não dando tempo pra responder, mais uma vez - É que eu já, Brock Montemiglio, pai Paolo Montemiglio, nascido e criado no centro de veneza, Mae, Mary Cooper, londrina de coraçao, vim a itália para ver os carnavais que o meu pai tanto falava.
Enquanto o rapaz falava, Vince, que deambulava pela sala, ouviu a conversa dele e chegou perto de nós.
- Já sabes quem vais ser?! - perguntou.
- Sim, acabei agora de o dizer ao Sullivan! - respondeu o Finnick.
- Muito bem, então e tu, já sabes?- perguntou Vince, dirigindo-me o olhar.
- Bem... não, mas posso inventar agora. Vou chamar-me Keaton Frederick Miles Dayle. Posso ser filho da minha mãe, Ella Miles e do meu pai, Frederick Dayle. Vim a Veneza para treinar o meu Italiano, porque vai ser aqui que vou tirar o meu curso superior e onde vou viver, um dia... - fiz uma pausa e olhei para Vince, franzindo o nariz - É o melhor que consigo arranjar, não sou muito criativo.

Não me estava nada a apetecer fazer arrumações, tinha acabado de chegar de uma longa viagem, só queria deitar-me e dormir. Já não me lembrava como era partilhar um quarto, na CHERUB estava habituado a dormir sozinho, no meu quarto, com as minhas coisas, como eu queria, agora tinha de partilhar o meu espaço com outra pessoa, isso não me deixava nada à vontade. O quarto onde dormia, na CHERUB, tanto metia nojo, como parecia acabado de desinfectar, normalmente deixava as roupas e o lixo a acumular num canto e, quando já não desse para encontrar a cama, aí sim, arrumava tudo. Mas, infelizmente tinha de me habituar a partilhar um espaço com outra pessoa, com sorte ele tinha os mesmo hábitos de limpeza que eu, ou então era um exterminador de sujidade e limpava o quarto por mim, isso sim, era excelente! O Finnick e eu, acabámos por ir até ao nosso quarto, carregados com as malas de viagem, que pousámos em cima das camas, quando lá chegámos. Fiquei com a cama que estava mais perto da porta, assim não tinha de andar tanto, quando quisesse ir à casa de banho ou comer, durante a noite. Não me atrevi a abrir a mala para arrumar as coisas, era mais fácil esperar que rebentasse, devido à quantidade exagerada de tralha que lá tinha dentro. Deitei-me na cama, descalcei as sapatilhas, atirei-as para debaixo da cama e espreguicei-me, estava todo dorido e cansado da viagem, só precisava de uma pequena sesta.

Depois de uns 30 minutos a dormir, levantei-me, sem vontade, e fui até à casa de banho. O Finnick tinha razão, era enorme, despi a roupa que trazia e atirei-a para o chão, não me preocupando muito onde havia de cair, de qualquer maneira ia para lavar. Abri a a torneira e fiz com que deslizasse para o lado da água quente, deixei a água escorrer, apetecia-me ficar mergulhado dentro de água. Quando a água chegou à altura que eu queria, entrei, parte da água caiu para fora, mas como não era eu que limpava não me importei com isso. Estive 15 minutos dentro de água, sem fazer nada, só ali, acho que adormeci durante uns minutos, estava mesmo cansado. Quando decidi que já era altura de lavar o cabelo e assim, olhei em volta à procura do gel de banho e gel de cabelo, mas não estavam em lado nenhum dentro da banheira, estavam no lavatório, sim, porque é lá que as pessoas normais tomam banho, faz falta é lá. Levantei-me e saí da banheira, pisando a enorme poça de água que estava no chão, tirei o que precisava do lavatório e voltei para dentro de água. Quando acabei de fazer o que se faz durante o banho, saí da banheira e fui à procura de uma toalha, mais uma vez não encontrei o que procurava e, desta vez nem na casa de banho estava... Tinha deixado a toalha ficar na mala, saí da casa de banho tipo ninja, e rebolei no chão (por sorte não haviam escadas ali, ainda corria o risco de cair e ficar com marcas), o Finnick estava entretido a ouvir musica, por isso nem me ouviu. Quando alcancei a cama, abri a mala, sem fazer barulho e atirei a roupa toda para o chão, tirei a toalha, enrolei-a à cintura, para o Finnick não ver as minhas intimidades e tirei roupa lavada, para vestir depois. Voltei para a casa de banho, sequei-me e vesti a roupa que trouxe, saí da casa de banho e fui até ao quarto.

- Hey! - gritei para o Finnick, esperando que me ouvisse. - Vou dar uma volta, até logo.

Depois de sair do Hotel, fui à procura de alguma coisa com interesse para a missão. Esqueci-me de trazer uma máquina fotográfica e os óculos, assim não parecia lá muito um turista. Ouvi um barulho enorme, parecia um tiro, aproximei-me do local e reparei num homem a coxear, deixando um rasto de sangue. Escondi-me atrás de um contentor do lixo e mordi o lábio para não gritar de raiva.

- Porra de sorte, tinha mesmo de me esquecer da máquina hoje! - reclamei baixinho.

Levantei-me bruscamente e corri de novo para o hotel, tinha de ir buscar a máquina. Quando entrei no quarto, corri até às coisas que tinha espalhadas no chão e comecei a atirá-las pelo ar até encontrar a máquina, peguei nela e prendi-a ao pescoço. Corri até ao Finnick e bati-lhe na barriga.

- Nem sabes o que aconteceu, vem comigo e despacha-te!

"Baile de Máscaras.
Sábado, pelas 21h30
no Diamante"

Sophie estava muitíssimo entusiasmada com a missão. Itália era um dos seus destinos de sonho e há muito que a querubim não testava os conhecimentos e capacidades que adquirira na CHERUB. Pretendia regressar da viagem com uma t-shirt azul escura. Na sala de convívio do hotel de 5 estrelas em que se haviam instalado, escutou atenciosamente as indicações dos instrutores. Assim que eles dispensaram toda a gente, Diana aproximou-se da amiga. Juntamente com Parker, constituíram uma equipa. Diana e Parker rapidamente comunicaram a identidade que utilizariam a Vince. Sophie demorou-se um pouco mais, mas optou por chamar-se Colleen Mitchell Grayson. Colleen teria 16 anos, seria filha de Aaron Grayson e Phoebe Mitchell. Viajara até Veneza com o propósito de visitar alguns amigos que se tinham mudado para a cidade. Vince não se opôs à sugestão, pelo que aquela questão estava resolvida. Sophie encaminhou-se até ao quarto que lhe estava destinado. Encontrava-se vazio, porém os edredões das camas já estavam ligeiramente desarrumados e sobre o chão repousavam duas malas. Sophie colocou os seus pertences ao seu lado e aproximou-se da janela. A vista era deslumbrante, mal podia esperar para desfrutar dela. Tomou um duche rápido, trocou de roupa e acercou-se da máquina fotográfica, dos óculos de sol e do telemóvel. De seguida, abandonou o quarto. Enquanto esperava pelo elevador, reparou que recebera uma mensagem de Diana a avisar que tinha saído e outra a anunciar que iriam a um baile. Sorriu e respondeu-lhe alegremente, guardando o telemóvel no bolso dos calções. Saiu para a rua, inspirando profundamente. Daí a instantes, já estava sentada numa gôndola, que tentava guiar sem grande sucesso.

- Antes de mais nada, devíamos ver se não há ninguém que nos possa ver, eu ouvi um disparo, duvido que o senhor tenha dado um tiro no próprio pé, por isso, o mais certo é alguém lho ter feito. O rasto vem desde aquela entrada ali, mas quem quer que tenha feito aquilo ao senhor, já deve ter desaparecido, isso ou é muito atrasado, mas vamos lá ver, pode ter alguma coisa importante.

Seguimos o rasto de sangue, do sitio onde estávamos até ao sítio de onde o homem ferido vinha. Como suspeitava, ninguém se encontrava ali, era preciso ser mesmo muito estúpido para ficar lá. Procurámos por possíveis pistas em torno do local, era um beco sem saída, por isso, quem disparou sobre o homem que vi só pode ter saído dali de uma maneira, ou seja, pelo sítio de onde viemos, mas isso era estranho, ele saiu por outro sitio, não iria correr o risco de ir pelo mesmo caminho que o homem ferido e dar-se como suspeito do crime, era parvo. Tinha de haver outra maneira de sair dali. Olhei em redor e encontrei umas escadas presas à parede, como aquelas exteriores, que aparecem muitas vezes nos filmes, mas não estavam descidas, o que significava que, se o criminoso as tivesse usado, subiu para lá de alguma outra maneira.

- Estão escadas na parede, quem deu o tiro ao homem, ou as subiu, ou saiu por onde entrámos, mas duvido muito desta ultima hipótese. - disse eu, ao Finnick, apontando para lá.
- Concordo, provavelmente ele subiu pelo caixote do lixo, mas isso ia deixar rasto, tanto de lixo como de cheiro, se ele for bom no que faz deve ter pensado nisso e arranjou outra maneira de subir para lá. - concluiu o rapaz.
- Certo, queres vasculhar o lixo? pode ser que haja um escadote lá dentro ou assim, ou se calhar deu um mega jump no caixote e conseguiu agarrar as escadas. - brinquei.
- Não me apetece muito mergulhar no lixo... Ainda há um bocado tomei banho, Sullivan... - disse Finnick.
- Não precisas, eu vou então, mas vê se vem alguém, tanto das escadas como da entrada. Qualquer cena estamos à procura da minha máquina fotográfica, que deixei cair para o lixo e o serviço de quartos deitou fora. - Dito isto, arranquei a máquina que trazia presa ao pescoço e mergulhei-a bem fundo no lixo, atirando-me também lá para dentro.

Nem era tão mau assim, só o cheiro, isso era dispensável, mas a sensação de estar dentro de um caixote do lixo até que era agradável, começava a invejar os vagabundos, quem precisa de uma piscina com uma maravilha destas? Comecei a atirar o lixo para trás de mim, vendo as peças uma a uma, não fosse aparecer algo importante. De facto havia um escadote ali dentro, mas mesmo assim era pequeno de mais para chegar às escadas, mesmo usando o mesmo, era preciso dar um pequeno salto para conseguir chegar lá a cima. Continuei a procurar coisas, podiam ter deixado a arma ali, era pouco provável, mas nunca se sabe.

Ouvimos algo a aproximar-se de nós, estava ainda longe, deixava-nos tempo para fugir, mas tínhamos de ser rápidos. O escadote que tinha atirado para fora, podia agora ser-nos útil, mas não sabia se usá-lo para chegar às escadas de incêndio seria o mais acertado, visto que não íamos ter tempo para o esconder outra vez no lixo e iam perceber que alguém tinha andado à procura de qualquer coisa ali. Achei que, naquela situação, o melhor seria deixar-mo-nos estar ali, eu no lixo e o Finncik perto do mesmo, dessa forma, não seria suspeito se nos vissem. Mas era a solução mais arriscada, podiam fazer-nos mal, não só por causa do sangue que manchava o chão, perto do caixote, como do facto de estarmos ali, a vasculhar no lixo, procurando uma câmara fotográfica num beco meio longe do hotel onde estávamos alojados. Não sabia o que deveríamos fazer e tomei uma decisão apressada, talvez errada, mas para mim, naquele momento, era o mais certo. Juntei as duas mãos e disse ao Finnick que tomasse impulso para chegar às escadas e as subisse, escondendo-se de quem quer que aí viesse, não só podia descobrir algo, como poderia avisar os outros, caso algo me acontecesse.

- Sobe, depressa. - disse-lhe, baixinho.
- Não, nem penses que te deixo aqui sozinho, podem matar-te! - respondeu Finnick.
- Não sejas teimoso, sobe para a porra das escadas e pede ajuda se eles me fizerem mal e procura pistas. - disse-lhe, com calma. - E não te preocupes, não me vão fazer nada, sou só um miúdo estrangeiro à procura de uma câmara, no lixo. Agora sobe, se nos encontram aos dois vão estranhar. - Disse enquanto o puxava, para que fizesse o que lhe disse.

Demorou a convencer o rapaz, mas consegui que ele subisse as escadas, escondeu-se num sitio alto o suficiente para ouvir o que se passava em baixo e de onde pudesse fugir caso quem se estava a aproximar, também fosse subir as escadas. Escondeu-se e esperou. Os passos e vozes estavam cada vez mais próximos, não conseguia perceber o que diziam, não estavam perto a esse ponto, mas percebi que eram estrangeiros.

- Porra para isto! - gritei. - Não consigo encontrar a porcaria da máquina, fogo!

De repente, as vozes deixaram de se ouvir, assim como os passos, a minha ideia era tornar a situação mais credível, daí ter gritado. Continuei a espalhar lixo, atirando-o para todos os lados. Não ouvi mais vozes, podiam estar à espera que saísse. Fiz um sinal para o Finncik, tentando dizer-lhe que ia dar uma vista de olhos fora do beco, mas que voltava o mais depressa possível.
Ele assentiu, saí do lixo e gritei.

- Desisto, porra para isto, 300 euros deitados à rua!

Saí do beco, com um ar furioso e passos largos e apressados, não vi ninguém lá fora, talvez tivessem ido embora, mas mesmo assim, escondi-me entre dois prédios, para poder ver se havia alguém escondido à espera que eu saísse do beco.