Passado de Daniela Oliveira

09/06/2000

Era uma manhã de verão típica de Londres. Não muito quente mas também não chegava aquele calor infernal. De vez em quando chovia mas nada de especial. Estavam aproximadamente 22 graus. Eram 7h30 e como era normal Daniela encontrava-se a dormir. Os seus pais preparavam-se para ir de férias num cruzeiro para terem um tempo "a sós".
- Já viste que linda a nossa filha? Custa-me deixa-la aqui.
- Temos de ter um tempo para nós querida, voltamos daqui a 2 semanas, passa rápido.
Despediram-se de Daniela com um beijo na testa e saíram deixando a sua Tia Teresa a tomar conta dela. Passadas 3 horas Daniela acorda.
- Mamã! Papa! - diz com aquela voz fininha de criança.
- Calma amorzinho, os pais foram de férias e não quiseram acordar-te. Ainda te lembras da Tia?
- Não...quero a mamã! - disse chorando.
A sua Tia pegou-a ao colo e adormeceu-a com alguma dificuldade. Passou o resto do dia a dormir.

20/06/2000

Daniela já se habituara á sua tia Teresa e começava a gostar dela. Estavam a brincar na sala de estar com um pequeno piano de brincar, quando alguém toca á campainha.
- Triiim Triiim - disse Daniela a imitar a campainha enquanto ria. A sua tia abre a porta.
- Bom dia, é a Sra.Teresa Oliveira? - disse um homem que parecia ser da marinha por causa do fato que tinha.
- Sim...que se passa? - perguntou preocupada.
- Lamento informa-la, mas ontem á noite enquanto havia uma festa, o Sr. John e a Sra. Amy caíram ao mar, tentamos de tudo para encontra-los mas como sabe é improvável que os encontremos por isso cancelamos as buscas.
- Mas vocês não podem desistir! Têm de encontra-los, eles podem estar feridos em algum sítio!
- Não podemos fazer mais nada...
Ela fecha a porta de força e começa a chorar.

20/07/2000

Tinha passado um mês desde que os pais de Daniela tinham sido dados como mortos. Teresa ficou muito abalada com a morte da sua Irmã Amy. Começou a frequentar bares e a beber muito, chegava tarde a casa e batia na Daniela. Uma noite chegou a casa muito bebeda e Daniela estava a ver desenhos animados na tv.
- Que estás a fazer pirralha?! Já não te disse para não ficares aqui até tarde a ver essa PORCARIA!? ANDA CÁ, JÁ VAIS LEVAR COM O CINTO - Daniela saiu do sofá e começou a correr, mas era inútil. Teresa era maior e era rápida por isso apanhou-a e começou a bater-lhe com o cinto.
- É para aprenderes a não me desobedeceres! - Daniela chorava e gritava muito. - NÃO GRITES QUE ME DOI A CABEÇA!

Depois de 1h a bater nela deixou-a no chão a sala aos berros e sem se preocupar foi dormir.

06/08/2002

Daniela tinha agora 5 anos e começou a ir para a escola. Ela andava sempre cheia de marcas na cara e pisaduras por todo o corpo. Era gozada na escola pois andava com roupas velhas e não falava com ninguém, chamavam-na de esquisita.
- Olhem, chegou a esquisita! - gritou um miúdo de 8 anos.
Ao ouvirem isto, as crianças começaram a gozarem com ela e a chamarem-lhe nomes. Empurravam-na para o chão e riam-se como se ela fosse um brinquedo.
- Pareem! - gritou Daniela. - Deixem-me em paz!
- Vais chorar esquisitinha? ÉS UM BEBÉ!
Daniela levantou-se e correu para dentro da sala. Sentou-se na cadeira mais longe do quadro para que a professora não a visse e deitou a cabeça sobre a mesa. Começou a chorar. Tinha saudades dos seus pais, pensava "Eles abandonaram-me! Agora tenho de ficar com aquela bruxa". A sua tia nunca lhe tinha dito que eles tinham morrido naquelas férias por isso ela pensava que eles deixaram-na sozinha sem se preocuparem.
- Porque estás a chorar? - disse a voz doce da professora.
- Nada...aleijei-me. - disse limpando as lágrimas e fingindo um sorriso.
- Podes dizer-me, queres que fale com a tua Tia?
- Não! Caí só isso! Não me chateie!
- Não sejas mal educada! - disse rispidamente - Eu vejo as marcas que tens e isso não é de uma pessoa que caí uma vez ou outra. Fica a saber que falei com o director para mandar vir a tua Tia cá.
- Não pode! - levantou-se da cadeira e fugiu. Não sabia para onde ia, só queria sair dali.

24/12/2002

Era véspera de Natal mas Daniela não estava com espírito para comemorar nada. Estava fechada no quarto a ver Tv quando a sua Tia abre a porta e diz:
- Toca a levantar! Temos visitas!
- Quem? - perguntou curiosa e a pensar "pode ser que não me bata com as visitas cá"
- É o teu primo Guilherme.
- Ah...que bom. - disse Daniela aborrecida.
Não gostava dele por nada, era chato e só falava de coisas que não interessam a ninguém. Teresa aproximou-se dela e agarrou-a pelo pescoço.
- Se abres a boca...mato-te pirralha! Tás a ouvir!? MATO-TE! - disse cuspindo para a cara de Daniela. - Agora veste-te e desce, ele deve estar quase a chegar.
- Está...bem... - disse com dificuldade, largou-a e saiu.
Foi até o espelho e viu-se. Assustou-se com o que viu. Marcas, pisaduras por todo o corpo e umas olheiras gigantes. Vestiu uma camisola de gola alta velha para não se ver as marcas e desceu.
- Priminha! - disse alegre o Primo Guilherme e dando-lhe um abraço sufocante
- Ah...Olá...estás a esmagar-me... - resmungou Daniela.
Ele largou-a e começou a rir. Teresa estava sentada no sofá e ele foi ter com ela e começaram os dois a falar. Daniela sentou-se no outro sofá e começou a ver Tv e a tentar não ouvir a conversa desinteressante que eles estava a ter. O resto da noite foi chata, só recebeu um presente do seu primo que era super feio. A sua tia deu a desculpa que não tinha dinheiro para comprar nada.

23/03/2004

Daniela tinha agora 7 anos e estava farta de levar porrada da sua Tia Teresa. Começou a pensar em fugir de casa. Foi para a escola às 8h30 como é normal. Recebeu um teste e ficou um pouco assustada, tinha tirado negativa. O professor disse que queria falar com ela no fim da aula.
- Daniela, tu tens tantas capacidades e... - interrompi-o
- O senhor não fale do que não sabe, eu tenho mais com que me preocupar. - disse aos berros e saí da escola a correr.
O que iria fazer agora? Tinha tirado uma nota péssima, quando mostrasse á sua tia ia levar porrada, e ela não o queria. "É agora, está na hora de fugir, ou então morro nas mãos daquela bruxa." Correu muito mas não tinha para onde ir, não sabia caminhos, não sabia nada. "Está tanto frio hoje! Vou morrer congelada." Encostou-se a uma parede e sentou-se a descansar.

**

Eram 23h30 mas Daniela não conseguia dormir por causa do frio. Caminhou um pouco e encontrou um contentor do lixo e começou a procurar alguma coisa para se tapar. Encontrou um cobertor todo rasgado e velho, mas ela não se importava, pegou nele e aqueceu-se. Encostou-se de novo á parede e acabou por adormecer a contar estrelas.

25/03/2004

Dois dias bastou para Daniela se habituar aquelas noites frias. Tinha arranjado alguns trocos que pessoas lhe davam e apenas tinha dinheiro para um pão. Era apenas um pão mas para uma criança esfomeada e com frio aquilo era como comer um bolo de chocolate gigante.
- Este pão está tããão bom... - disse Daniela comendo o pão.
Depois de acabar de comer o pão decidiu ir dar uma volta para apanhar ar. "É melhor não arriscar muito, podem andar á minha procura.." pensou. Enquanto passeava com o cobertor ás costas pensava nos seus pais. Lágrimas lhe escorriam pelo rosto quando pensava que eles a tinham abandonado e a terem deixado com a bruxa da sua tia. De repente...

25/03/2004 (Continuação)

De repente aparece uma senhora alta, magra de olhos verdes escuros que diz:
- Ei...que estás aqui a fazer sozinha?
- Eu...Eu...
- Não tenhas medo, não te vou fazer mal, eu sou de uma instituição aqui perto. - mostrou o cartão e Daniela abriu um sorriso. - Não tens casa?
- N...Não...encontrei a minha tia morta - disse ela sem expressão. Sei que não devia ter mentido, mas era o que me lembrava na altura, se calhar porque era o que mais desejava.
- Oh meu deus! - de seguida abraçou a Daniela e pegou-a ao colo. Ela Sentiu-se como um bebé no colo da mãe. Lembrou-se dos meus pais de repente, a senhora era muito parecida com a sua mãe e começou a chorar.
- Não chores, eu levo-te para uma casa segura.
Ela meteu-a num carro e levou-a para a instituição.

25/04/2006

Já tinha passado 2 anos e 1 mês desde que Daniela tinha vindo para a Instituição e estava a adaptar-se muito bem. Tirava excelentes notas e tinha muitos amigos. Tinha uma companheira de quarto chamada Anne, elas davam-se muito bem apesar da diferença de idade. Daniela sentia que Anne era como uma irmã mais velha. Anne tinha 12 anos e já estava naquela instituição desde os 5 anos. Anne tinha os olhos verdes claros, o cabelo castanho claro, era alta para a sua idade, era magra e toda a gente gostava dela. Daniela abriu a porta do quarto e Anne estava na secretária a estudar. Foi até ela e disse:
- Olá Anne, a estudar?
- Olá, sim, vou ter teste - disse e eu dei-lhe um beijo na bochecha.
- Mas tu prometes-te que ias brincar comigo...
- Eu sei...mas isto é importante. Desculpa.
- Vou ver se tenho trabalhos de casa. - disse aborrecida
- Está bem.
Daniela sentou-se na cama e começou a tirar os livros da mochila para ver se tinha trabalhos de casa. Não tinha nenhuns, o que era óptimo pois podia descansar. Deitou-se e logo adormeceu.

23/10/2006

Daniela hoje fazia 9 anos. Estava demasiado entusiasmada para dormir por isso ficou a noite toda a ler o seu livro preferido que a Anne lhe tinha dado com umas poupanças que tinha. Acabou por adormecer com o livro na sua cara ás 3h. Acordou as 9h, só tinha aulas de tarde mas queria festejar o aniversário.
- Bom dia! - disse alegre ao acordar Anne.
- Ah...bom dia...
- Não te estás a esquecer de nada?
- Parabéns.
- Que entusiasmo.
- Desculpa, mas estou cheia de sono, deixa-me dormir mais um bocadinho... - disse Anne pondo a almofada em cima da cabeça.
- Vou ao quarto do John.
- ham ham..
Daniela saiu do quarto e andou para o lado esquerdo. O quarto do seu amigo ficava a uns metros do seu. John era da mesma idade de Daniela mas era bastante alto para a idade, tinha o cabelo ruivo e os olhos azuis. Tinha algumas sardas na cara, mas ficavam-lhe bem. Bateu á porta 3 vezes mas ninguém abriu. Tentou mais uma vez e ouviu uma voz:
- Quem é?
- John, abre a porta, sou eu a Daniela. - Ele abriu a porta. Estava com cara de sono e estava vestido com um pijama velho.
- Diz.
- Sabes que dia é hoje?
- Sei lá.
- Eu faço anos!
- ah isso, parabéns.
- Posso ficar aqui um bocado? - perguntou já a entrar no quarto. - O Sam?
- Foi tomar o pequeno almoço.
- Tens aí aquele jogo dos Pokemons que saiu á pouco tempo?
- Não...o Gui disse que era muito caro e não me deu. Tenho para aí algures um parecido queres jogar?
- Está bem.
- Vou buscar - tirou uma caixa debaixo da cama e tirou o jogo.
Depois de passarem o resto da manhã a jogar, Daniela voltou para o quarto para arranjar as coisas para a escola.

01/01/2007

Era o primeiro dia do ano e Daniela gostava muito destas festas. Na noite anterior os responsáveis da instituição deixaram que todos ficassem acordados até mais tarde para ver o fogo de artifício e festejar um bocado. No dia seguinte acordou e não viua Anne. Levantou-se e foi tomar o pequeno almoço, queria ver a Anne o mais rapidamente possível porque tinha de lhe contar uma coisa.
- Ah, estás aqui - disse sentando-se á beira da Anne.
- Tenho de te contar uma coisa - disseram as duas ao mesmo tempo.
- Diz - disse a Daniela.
- Bem...hoje de manhã chamaram-me para ir falar com uma pessoa responsável por todos nós. Essa pessoa disse-me que hoje é o meu última dia cá.
- QUÊ?!
- Eu vou para outra instituição.. - disse triste.
- Nãão! Porque?
- Não sei...não me disseram. Vou embora daqui um bocado mas eu não te queria dizer nada para não ficares triste mas vieste falar comigo então tive de dizer.
- Não quero que vás!
- Não posso fazer nada...eu também queria ficar - de seguida abraçou Daniela.
Ficaram assim uns minutos e depois foram interrompidas por um homem alto.
- Temos de ir Anne, estamos atrasados.
- Ok. Daniela, espero que te corra tudo bem e que encontres uma família para ti.
Mas Daniela não ouviu. Levantou-se e correu para o quarto, sem despedir-se. Estava de rastos, faltou ás aulas e deu a desculpa que estava com dores de cabeça a uma funcionária que a viu no quarto.