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O passado de Jô Soares

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Mensagem  Jo Sáb 09 Jun 2012, 22:48

O meu pai foi assassinado durante um assalto. Ele não deveria ter resistido, pois os assaltantes tinham uma arma de fogo. Pelo menos era o que dizia o jornal que encontrei quando tinha 4 anos. Inicialmente não sabia quem era o homem da fotografia do jornal, mas sentia uma ligação com ele, nomeadamente devido ao rol de fotos dele que andavam espalhadas pelo apartamento. Penso que o ficar a saber que era o meu pai foi um processo gradual, por isso não consigo precisar a data em que o soube. Também foi um processo gradual, o desaparecimento de todas aquelas molduras com as fotos do meu pai.
Já tinha 4 anos, mas não falava. Aprendi a ler enquanto via aqueles bonecos do canal 2. Também, enquanto a minha mãe me lia histórias, eu sentava-me no seu colo, para ver as letras. Assim, fui assimilando as letras e a perceber o que cada palavra queria dizer.
A minha mãe tinha receio de que eu tivesse algum problema mental, pois eu nunca mais falava, estava constantemente a olhar para o vazio e não “encaixava” com nenhum brinquedo.
Ela não queria gastar muito dinheiro no médico e tentou adiar durante algum tempo.
Até encontrar-me absorvida no jornal que anunciava a morte do meu pai.
-Como encontraste isto? – perguntou tirando-mo, estava eu a começar as palavras cruzadas.
Lembro-me da cara dela, num misto de surpresa e horror. Deixou cair o jornal ao chão.
“Horizontal: 1. Última letra (vigésima quarta) do alfabeto grego”
Olhei para a minha letra toda torta, cada uma ocupava as cinco primeiras quadrícula da primeira linha. Devido à caneta de gel, estava tudo borratado, mas dava para se perceber o que estava escrito.
-Ómega – li, falando pela primeira vez com ela.
***
-Síndrome de Asperger? – guinchou a minha mãe no psiquiatra. – O que é isso?
-Minha senhora, tenha calma – tentou tranquilizar o médico. – É uma vertente do autismo. Mas, o da sua filha não é assim muito grave em comparação com outros casos desta síndrome. Nem posso dizer que seja realmente esta doença, porque ela não tem assim muitos sintomas. E ainda é nova. Às vezes pode ser apenas QI extremamente elevado. Pensa-se que o próprio Einstein também sofria desta síndrome.
-Lá sei quem é, nem quero saber.
-Teoria da relatividade – pronunciei quase maquinalmente enquanto olhava para os objetos do gabinete.
-Eu própria tenho medo dela!
-Não se preocupe. Basta um bom psicólogo e ela ficará boa.
E, pronto, tenho de admitir que o psicólogo fez um bom trabalho, o problema foi o dinheiro que a minha mãe gastou até eu fazer oito anos (quando deixei de frequentar as sessões devido à falta de dinheiro).
Com cinco anos, fui para ginástica de solo e de aparelhos, pois a minha mãe sempre teve esse sonho. Mas eu não gostava lá muito e pude desistir quando tinha oito anos.
Também com cinco, a pedido do psicólogo, entrei no karaté do bairro (para socializar e desenvolver a fala), que servia para manter as crianças e adolescentes ocupados e assim não se desviarem do mau caminho. Mas digamos, que isso na realidade não acontecia.
Entrei um ano mais cedo na escola. A primária nem foi assim muito má. Não morria de tédio, pois estava à janela nas aulas e desligava-me completamente. A professora é que deve ter ficado cansada comigo, pois eu era uma criança difícil.
O psicólogo recomendou que eu entrasse em alguma modalidade para aprender a jogar em equipa e assim socializar e falar mais. A minha mãe não me inscreveu em nada logo, mas quando tinha nove anos, o namorado dela era treinador de uma equipa de basquete feminino e deixou-me entrar na equipa sem gastos adicionais. Penso que os meus noves anos foi a melhor época da minha. Mas tudo terminou após uma violenta discussão entre o meu treinador (que entretanto tinha sido trocado por uma mulher para nos treinar) e a minha mãe.
A minha mãe começou a viciar-se em antidepressivos. Sem a ajuda do treinador, nós não tínhamos muito dinheiro, que ela foi gastando cada vez mais em medicamentos e álcool.
Apareceu um novo namorado, um dos homens que praticavam boxe no ginásio onde eu tinha aulas de karaté. Mas isso não terminou com o vício dela, penso que até começou a gastar ainda mais dinheiro.
Lembro-me de uma vez entrar em casa e deparar-me com ela desmaiada no meio da cozinha com os pulsos cortados. Felizmente, a ambulância chegou a tempo para a levar ao hospital.
Estava já no sexto ano, 11 anos.
-Sousa! – chamou-me o mestre quando a aula terminou. – Está aqui uma pessoa que quer falar contigo.
Depois de me calçar fui para o corredor.
-Olá, Lili – disse o namorado da minha mãe. – Vamos falar?
Pôs o braço sobre os meus ombros e levou para um escritório subterrâneo.
-O que quer? – interroguei quando ele ligou a luz.
-Pronto, eu sei que a tua mãe está a ter algumas dificuldades.
-Sim. E depois?
As prateleiras do escritório estavam cheias de papelada e aquele computador de última geração estava a chamar por mim.
-Ela falou-me de ti e o quão és inteligente. Estive a investigar por conta própria e digamos que ela não me estava a mentir. Fiquei deveras impressionado!...
-Sim, já percebi. Mas o que quer? – pacientei-me.
-Se me ajudares a resolver uns problemas, garanto-te que irás receber um bom dinheirinho.
Comecei a gostar da conversa. “Já foste. Descobrirei tudo o que escondes. Até lá vou recebendo um dinheirinho extra. Pode ser desta que a minha vida vai melhorar.”
-O que queres que eu faça?
***
O pai de um colega de turma era polícia.
-Amanhã vamos à Luz ver o jogo! – gabava-se nas aulas.
Então, no sábado, a casa estaria vazia com todas as coisas do pai, provavelmente.
Avisei o grupo e às 15h da tarde de sábado, estávamos perto da esquadra com o portátil do pai dele.
-Só preciso apanhar a rede que liga todos os pc’s da esquadra. É provável que este já esteja reconhecido e a única coisa que precisamos é estar abrangidos pela rede.
Consegui o acesso à frente da esquadra.
-É melhor vocês saírem porque chama as atenções. Eu escondo-me na zona do pendura.
-Ok – disse o namorado da minha mãe. – Sabes o que tens de fazer, certo?
-Yap.
Saíram e eu com alguma dificuldade encolhi-me à frente do assento do pendura. Pousei o computador no banco e pus-me mais confortável.
Com alguma paciência consegui aceder aos ficheiros da polícia, na rede de investigação. Apaguei uns nomes, baralhei outros, modifiquei fotos e dados, etc. com a ajuda de um vírus que eu anteriormente “infiltrei” nos pc’s da polícia através daqueles e-mail’s de corrente.
Telefonei ao namorado da minha mãe passado uma hora e fomos embora.
-Muito bem, filha. Toma o combinado – entregou-me um envelope muito bem forrado por dentro.
Quando eles me deixaram numa zona comercial do Porto, fui a uma livraria comprar livros de matemática e uma calculadora gráfica. Eu simplesmente adorava matemática.
Cheguei a casa e a minha mãe estava deitada no chão com uma caixa de comprimidos aberta ao lado dela.
-A sério? Só podes estar a gozar comigo – murmurei antes de telefonar novamente para o 112.
Uma lavagem ao estômago e um tubo enfiado na garganta. Uau, isto nunca mais termina…
Dei a volta às enfermeiras dizendo que passava a noite em casa de uma tia.
Elas levaram-me ao táxi e eu dei a morada de uma casa a dois quarteirões do ginásio. Tinha de aproveitar o facto de todos estarem a festejar e não haver ninguém para me importunar. E não ia deixar a oportunidade passar só por causa de outra paranoia da minha mãe.
18h. Só estava o homem das limpezas. Calcei umas luvas de latex para não deixar nenhum vestígio meu caso as coisas virassem para o torto.
O ginásio era grande e o empregado demorava aproximadamente uma horinha e não ia para o piso subterrâneo.
Desci as escadas, a porta do escritório estava trancada. Não consegui arranjar chaves nem queria vir muito carregada. Não queria também dar sinais de arrombamento, por isso tinha de me contentar com dois ganchos.
Pousei a lanterna (a luz do corredor já estava desligada no quadro elétrico) no chão enquanto tirava os ganchos da bolsa.
Aprendi como “funcionavam” as fechaduras num documentário.
Separei as hastes de um dos ganchos até fazerem um ângulo de 90º. Com o outro, cruzei as duas hastes, fazendo uma espécie de gota de água na zona onde anteriormente o gancho dobrava.
Agarrei a lanterna com a boca e apontei a luz para a fechadura. Enfiei a “gota” na fechadura e rodei uma das hastes, no sentido dos ponteiros do relógio, até fazer um ângulo reto com a outra. Enquanto pressionava a “gota” no sentido horário, eu também pus o outro gancho e forçava os dentinhos para baixo. Bastava preencher cada buraquinho…
Finalmente tirei um dos ganchos e rodei a haste do da “gota de água”, que ficou na fechadura.
Dei um suspiro de alívio quando rodou completamente, o que não resultou muito bem por causa da lanterna. Apenas fez com que me babasse mais.
-Tanta coisa com as impressões digitais e ainda me apanham por causa da saliva – pensei. Eu sabia que eles nunca iriam chamar a polícia caso desconfiassem de algo, mas eles tinham de certeza bons contactos.
Abri a porta e olhei para o relógio.
-Ora bem, tenho 35minutos.
Entrei dentro do escritório. Ignorei, numa fase inicial, a papelada e dirigi-me logo ao computador.
Liguei-o e passei tudo o que me pareceu importante para a pen. Depois fui investigar os papéis.
“Ok. Não estava à espera”, pensei quando as peças começaram a encaixar. Sorri para mim própria. Teria de ponderar muito bem antes de usar esta carta.
Também encontrei vários telemóveis fatelas e outras cenas escondidos em gavetas.
Olhei para o relógio e para não abusar da sorte, saí ainda faltavam cinco minutos para o fecho.
Passou-se um ano.
-Temos de te apresentar alguém – disse o agora ex-namorado da minha mãe, na garagem de sua casa, onde costumávamos reunir para preparar os detalhes quer do fornecimento e entrega de droga ou das contas a ajustar com alguém.
Um rapaz de ombros largos, olhos castanhos e cabelo igualmente castanho, cortado rente.
-Kevin – apresentou-se enquanto esticava o braço.
-Liliana – apertei-a.
-Tu andas lá na escola, certo? – perguntei, pois lembrava-me de o ter visto por lá.
-Yap. 12ºano.
-O que raio vieste para aqui fazer?
-Preciso de dinheiro.
-Podemos confiar em ti? – desconfiei.
-Claro – sorriu.
“Pois, e eu sou o pai natal. Não gosto da tua pinta. Apareceste demasiado depressa.”
-Ele já trabalha connosco há umas semanas – disse um. – E está a fazer um bom trabalho.
-Então porque tens essa cara? – perguntei.
-Que cara? – interrogou o Kevin.
-Surpreendida.
-Ah, nunca pensei que a pessoa que iria conhecer fosse uma rapariga como tu.
-Nunca ninguém pensaria, não é? – riu-se o ex-namorado da minha mãe. – Se soubesses o que ela já fez…
-Prefiro que não avances nada sobre mim – interrompi.
-Sempre às ordens – fez sinal de continência.
Antes de ir para casa, passei pela biblioteca. Acedi ao site da escola e fui ver as turmas. 12ºB. Fui depois ver o horário dele.
Segunda ele tinha educação física.

-Professora, posso ir ao quarto de banho? – perguntei meia hora depois de começar a aula de matemática.
Esta stora gostava de mim, por isso deixou-me sair. Também já sabia aquela matéria de trás para a frente.
Saí da sala e entrei sorrateiramente no pavilhão gimnodesportivo de forma a que os funcionários não dessem por mim. Fui para o balneário dos rapazes. Peguei na pasta dele e tirei o telemóvel.
Nada, não tinha mensagens nenhumas, a não ser das pessoas do gang. Achei estranho. Ele só tinha sms e chamadas do gang. Fui à lista telefónica, mas aí já havia uma série de contactos. Era estúpido, tipo porque razão ele apagava os outros sms’s, por exemplo, os da publicidade ou de alguém da lista telefónica e não apagava os do gang? Quer dizer, se a polícia o apanhasse ele ficaria em maus lençóis. E ele pareceu-me inteligente o suficiente para pensar nisso. Apesar de estar a formar-se uma ideia na minha cabeça, tentei não confiar muito nela. Havia grandes probabilidades de estar enganada, apesar de o instinto dizer-me que estava certa. Só precisava de provas.
Olhei para o relógio. A professora podia estar desconfiada, pois já tinham passado 10minutos.
Tive de voltar para a seca de aula.
***
Estava sentada no chão, encostada a um dos blocos da escola a ouvir música. Apareceu uma sombra e eu tirei os fones.
-Olá – ouvi.
Olhei para cima.
-O que queres? – perguntei ao Kevin.
-O Zé disse que tinhas os planos da entrega de hoje – disse depois de se sentar ao meu lado.
Tirei a folha da pasta e entreguei-lhe.
-Porque razão estás metida nisto? – perguntou.
-Penso que é a mesma razão que a tua.
-Não tens medo de ser apanhada?
-E tu, não tens? Amigo, cada um safa-se como pode. E eu já tratei de tudo.
-O que queres dizer com isso?
Começou a tocar.
-Não te interessa – disse enquanto me levantava, deixando-o sozinho.

Estava no local combinado e a horas, só que estava escondida. Eles nunca me deixavam participar efetivamente, porque eu ainda era uma miúda. Mas ao Kevin, que estava há muito menos tempo, confiavam inteiramente. Nunca tinha feito aquilo, porque aquele foi o único plano em que fui informada.
Vi o Kevin ao longe. Passou uma carrinha. Achei estranho, pois não a conhecia de lado nenhum.
Parou à frente do Kev e puxaram-no para dentro. O que se estava a passar?
Peguei na bicicleta e fui atrás da carrinha. Pararam mais à frente, num bairro completamente degradado e deserto. Encostei a bike e fui em pés de algodão até à esquina.
-…não te esqueças de os avisar. Aquela zona é mi… - atirei uma lata de refrigerante que estava ao meu lado para o cimo da rua, salvando o Kev de um chuto mesmo na barriga.
O Kevin aproveitou a distração e deu um murro mesmo em cheio na cara do agressor.
Desatou a correr.
-Vem atrás de mim – informei-o aparecendo à sua frente.
Começamos a correr.
-O que… estás… a fazer?
-Depois explico – respondi. – Será que ainda tens força?
-Eles não me chegaram a bater muito. Penso que sim.
-Depois de uns 20 metros quando virarmos a esquina, tenta forçar a porta do subterrâneo.
Conseguiu arrombá-la logo na segunda tentativa, pois a porta abria nesse sentido. Entrámos e encostámo-la logo.
-Segue-me – disse-lhe enquanto andava pelos túneis.
Não gostava mesmo nada daquela água que me entrava dentro dos pés e a luz do telemóvel não ajudava assim muito.
-Tu conheces isto? Para onde vamos?
-Vamos sair exatamente onde vocês pararam. Duvido que eles ainda estejam por lá - nós tínhamos ouvido a carrinha a passar mal fechamos a porta.
-Eu não percebi o que se passou.
-Deve ter sido aquelas rixas. Souberam de ti, quiseram tratar-te da saúde como se fosse um aviso para o resto do grupo. Mas isso faz-me pensar que alguém nosso deve estar a passar informações.
-Ah, certo. Mas como sabes os caminhos?
-Vi uma vez a planta das comunicações militares que podem fazer-se por aqui – mostrei as linhas aderentes à parede. – E depois ficou na minha cabeça.
Tivemos de andar baixados algum tempo, mas depois encontrámos a porta.
-Vá, chegámos – disse-lhe.
Desta vez, à quarta tentativa é que a porta abriu, também ela já estava velha.
Saímos. Como o previsto, não estava lá ninguém.
-Tu tinhas alguma coisa contigo? – perguntei.
-Nadinha. Eles iam dar-me as coisas agora.
Dei-lhe o meu telemóvel para ele ligar ao pessoal. Eles já tinham ido sem ele.
Peguei na minha bicicleta, que eu tinha deixado encostada lá perto.
-Agora vais para onde? – perguntei.
-Casa – respondeu.
-Posso emprestar-ta se quiseres, a minha casa é aqui perto.
-Eu levo-te a casa e depois vou para a minha. Assim fico mais descansado – sorriu.
-Como queiras – encolhi os ombros.
***
Estava na garagem quando ouvi um barulho estranho. Era uma espécie de zunido de algum aparelho qualquer. Vinha de debaixo do sofá.
Como não era normal, pus lá a mão e colado à base do sofá estava o que reconheci como uma escuta. Liguei a televisão, para não levantar suspeitas.
Tirei a escuta e olhei para ela.
-Uau, Tecnologia da boa – pensei.
Estive a ver se encontrava algum amplificador de sinal. Nada. Ou estava escondido noutro sítio ou eles estavam perto.
Levantei uma das almofadas do sofá e pus a escuta lá em baixo. Não sabia se era o suficiente para abafar as conversas, mas podia ajudar um bocado.
E agora… quem é que teria posto aquilo ali? Lembrei-me logo do Kevin. Mas também havia outra pessoa, aquela que informara a concorrência acerca da entrega do Kevin.
Mas apesar de tudo… pensava que era o Kev.
Havia algo nele que não me inspirava confiança.
Tinha de o apanhar de alguma forma. Agora, como…?
Pensei.
Pus o meu telemóvel a tocar e depois fingi que atendi.
-Estou? Olhe, queria falar consigo… O plano continua de pé? É que ainda não recebi nenhuma confirmação… Sim, está muito dinheiro em jogo, mas mesmo assim quero participar. Dia 2 na ribeirinha, certo? 22horas… Ok. Sim, descanse, ninguém do meu grupo sabe.
Sorri. Será que caíra?
No dia 2 saí de casa às 16horas, pois já não aguentava a minha mãe. Ela tinha-se embebedado lá no café e voltou para casa chatear-me a cabeça. Não percebo como é que ela chegou àquele ponto. Arranjei uma mochila e pus lá as minhas cenas.
Andei às voltas pela cidade até às 21horas. Fui para lá mais cedo e escondi-me.
Vesti o casaco e pus o carapuço. Passei por lá à procura de alguém. E foi então que o vi.
Eu sabia, sempre soube.
-Para que é isso? – perguntei, depois de ele instalar uma cena que parecia uma câmara de vigilância.
Virou-se para trás.
-Quem é que és? Trabalhas para quem?
Agarrou-me o pulso e puxou-me.
-Hey, larga-me! Faço já um escândalo aqui.
Consegui soltar-me e comecei a correr. Encontrei uma garrafa de cerveja no chão e apanhei-a. Parei e parti-a numa esquina.
Ele também parou e pôs as mãos no ar enquanto lhe apontava a garrafa com a base partida.
-Cuidado – disse-me devagar. – Podes magoar…
Foi então que apareceu um homem já nos seus 50anos.
-Ela estava a mentir – disse-lhe Kev.
-Liliana, largue isso. Caso não obedeça, irá ser mais difícil para si – dirigiu-se a mim, mostrando-me um distintivo da guarda nacional republicana.
-Tu trabalhas para a polícia? – interroguei Kevin.
Ele limitou-se a encolher os ombros.
Larguei a garrafa e o homenzinho algemou-me. Entrámos num carro e fomos para uma casa, não para a esquadra.
-Vamos fazer assim, conta-me o que sabes e deixamos sair em liberdade-
-Vocês não são bons negociantes – disse-lhes.
Não abri a boca. Eu ainda era menor e, para além disso, não participara em nada efetivamente, logo não teria uma pena lá muito pesada. Caso saísse em liberdade e descobrissem que fora eu que me chibei, viveria muito pior que no reformatório.
O telemóvel do homenzinho começou a tocar. Levantou-se e foi para outra divisão atender. Passados uns minutos, chamou Kevin, que foi ter com ele.
Entraram os dois novamente.
-A tua mão atirou-se ao rio – o homenzinho foi logo direto ao assunto.
O sangue fugiu-se-me da cara.
-O quê?
-O corpo dela foi encontrado sem vida perto da margem.
Porque é que não choras, Li? Porque é que depois do choque inicial, tu já não queres saber? És tão insensível a esse ponto?
-Temos outra proposta – falou novamente. – Foi o Kevin que sugeriu a ideia.
-Sou toda ouvidos.
-Contas tudo o que sabes e garantimos-te um futuro seguro, fora deste país.
Pensei durante um bocado.
-O que querem saber?
-Tudo, mas já agora sabes quem manda nisto?
Sorri.
-Eu queria ter usado essa carta a meu favor… Mas agora que penso, pode ajudar-me. O dono da cadeia de hotéis de cinco estrelas… aquele cujo 1º hotel está sediado aqui.
-Alberto Cunha? – perguntou o homenzinho, surpreendido.
-Yap. Aquele que vai a todos as conferências e jantares da imprensa e que supostamente ajuda os lares de acolhimento.
-Tens provas disso?
-No escritório subterrâneo do ginásio… tudo o que encontrei foi lá. Mas ainda tenho uma pen com algumas informações, caso eles tenham limpado tudo.
Ele fez um telefonema qualquer e contou o que eu dissera. Depois, bazou.
-Queres ver tv?
Encolhi os ombros.
-Podes tirar-me as algemas? É que já nem sinto os braços – pedi enquanto Kev ligava a tv.
“Programa do Jô Soares”
Soltou-me.
-A sério? Humor de há não sei quantos anos? - perguntei. Eu nunca me ri com aqueles programas.
-Tens de rir mais – aconselhou.
Passados uns minutos, estava a faltar o ar por causa do riso.
-Também não exageres! – sorriu. – Nunca ris com nenhum programa, mas ris com ele?
Encolhi os ombros.
-Talvez é porque tudo terminou – respondi.
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Mensagem  Jo Sex 13 Jul 2012, 07:59

Acordei. Estava num quarto, tipo de hospital.
Apercebi-me que estava nua e vesti a roupa que estava em cima de uma cadeira.
Fiquei sentada na cama uns 15minutos, mas como ninguém apareceu resolvi sair de lá.
Vi muitos miúdos quando saí daquele edifício.
Que futuro seguro era aquele?
Dirigi-me para outro edifício de forma a encontrar a secretaria, ou algo do género.
-Gabinete do diretor – disse-me a senhora, sem me deixar falar.
Segui as setas.
Lá, falámos da organização CHERUB e se eu estaria disposta a entrar. Caso não quisesse, iria para uma família de acolhimento.
Também falámos de Kevin. Aquela tinha sido a sua última missão e ele já se fora embora. Senti-me insegura, pois ele podia ajudar-me na decisão.
Depois de saber que tinha de fazer uns testes para ser aceite, pedi para fazer os testes primeiro e só depois decidir quando soubesse se fora aceite ou não.
-Podes mudar o teu nome, se quiseres – disse-me o diretor. – Queres continuar com ele ou mudar?
-Jô Soares – saiu-me logo da boca, sem que eu pensasse. Gostava do nome, era curto e fácil de pronunciar.
***
Entrei noutro gabinete.
-Muito bem, de acordo com os testes, foste aceite – disse a mulher que estava lá. - Vou ser a tua orientadora – explicou.
-Ok – respondi. – Mas fui aceite à tangente?
-Tiveste resultados ótimos. Nos físicos, foi tudo acima da média exceto a força de braços, mas tens hipóteses de melhorar. O teu teste de QI foi um dos melhores, com uma pontuação de 190. Algo que deixa a desejar é a tua vertente social. Mas penso que isso irá melhorar com o decorrer do tempo, pois vais conviver com muita gente.
Ficámos em silêncio.
-Aceitas ou não? – perguntou.
-Aceito – respondi.
-Bem-vinda, Jô Soares.
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