- Qυαяtσ - Mick Lєigh.

Mick percorreu os corredores ladeados de portas correspondentes aos quartos de cada querubim, procurando o número correspondente ao seu. Tinha acabado os testes de aptidão, e passado cerca de meia hora a conversar com o seu orientador sobre o seu futuro na CHERUB, e concluíndo os detalhes da sua inscrição na próxima recruta. Sentia-se feliz naquele novo ambiente, embora um pouco apreensivo devido ao facto de não conhecer ninguém excepto Diana, que se encontrava fora num acampamento, e de estar prestes a iniciar uma recruta de cem dias, lendária pela sua dificuldade. Após alguns minutos de procura, Mick finalmente encontrou o seu quarto, e assim que abriu a porta, todas as suas preocupações se desvaneceram de imediato.

Era o melhor quarto em que já tinha estado. Era incrivelmente espaçoso, e uma janela grande na parte da frente mostrava uma paisagem incrível, apanhando grande parte das infraestruturas do campus, das quais se destacavam o campo de jogos e as piscinas. Existia também uma casa de banho privada, equipada com uma banheira com função de hidromassagem. Mick não pôde deixar de sorrir ao reparar nas pilhas de toalhas de vários tamanhos dispostas pelo compartimento, e nas embalagens e pacotes de produtos de casa de banho ainda por abrir. Com um sorriso no rosto, voltou ao seu quarto e avaliou a forma como este tinha sido equipado. A mobília tinha um estilo moderno, algo que Mick adorou. Num dos cantos, existiam três puffs voltados para uma televisão de tamanho considerável, que assentava numa mesa de apoio, onde também se encontrava um leitor de vídeo e uma consola de videojogos. Desse lado do quarto encontrava-se também uma secretária, onde estava um computador fixo de aspecto recente, com acesso à Internet, e uma pequena estante ainda vazia, que Mick poderia preencher com os seus livros favoritos. O último espaço do quarto era um pequeno mini-bar, com uma chaleira, um microondas e um pequeno frigorífico.

Mick nem conseguia acreditar que a partir daquele momento iria viver naquele quarto. Sentou-se na cama, não cabendo em si de contente.  Queria dar um toque pessoal ao quarto, mas para já iria apenas ficar por ali, ambientando-se, e não fazendo nenhum o dia inteiro.
Era difícil imaginar uma quarto melhor que aquele.

Tinha acabado de sair do duche que tinha tomado no dojo, estava toda irritada que nem me apercebi que não tinha entrado no quarto certo.
Atirei o saco para o chão e quase saltei de susto quando vi que alguém estava deitado na cama.
Arregalei os olhos quando apercebi-me que aquele quarto não era o meu.
-Desculpa...- pedi envergonhada ao rapaz enquanto apanhava o saco.- Nem reparei no número do quarto.- disse-lhe corada .

Mick estava descontraído, na sua cama, observando a televisão com atenção. Tinha recebido uma chamada da recepção, na qual avisavam que a sua orientadora se encontrava indisponível, e que só o iria contactar no dia seguinte. Decidiu então ver alguns episódios de Doctor Who que tinha em atraso. Fechou as cortinas, e a única luz que ficou presente no quarto foi a da televisão e do candeeiro da mesinha de cabeçeira. Aqueceu duas fatias de pizza que tinha no mini-frigorífico, retirou uma lata de Coca-Cola, e colocou a sua refeição improvisada num tabuleiro. Vestiu umas calças de pijama, aninhando-se depois debaixo dos cobertores, e colocando o tabuleiro no seu colo, antes de iniciar o episódio. Divertiu-se durante longos momentos, vendo um episódio e iniciando um segundo. No entanto, foi interrompido alguns momentos após o início do seu segundo episódio daquela tarde.
Mick surpreendeu-se quando viu a sua porta abrir-se bruscamente. Uma rapariga entrou no quarto, e deixou cair um saco de desporto ao pé da porta. A rapariga parecia irritada com alguma coisa, e sobressaltou-se quando viu Mick. Percorreu o quarto com os olhos, e apercebeu-se que não era o seu quarto, corando um pouco, e dizendo :
- Desculpa. Não reparei no número do quarto.
A rapariga estava notoriamente embaraçada, e Mick sorriu um pouco. Não queria que ela se ficasse a sentir mal, e até tinha achado o engano divertido.
- Não faz mal - disse Mick, tentando reconfortar a rapariga - Acontece. Mas estás bem ?
- Sim, porquê ? - perguntou a rapariga, surpreendida.
- Parecias um pouco irritada, quando entraste no quarto.
- Oh, isso. Não foi nada - a rapariga parou por momentos, pensativa, voltando-se depois novamente para a porta - Bem, desculpa a invasão.
- Espera - chamou Mick, parando o episódio e saíndo de debaixo dos cobertores - Não me chegaste a dizer o teu nome.
A rapariga voltou-se novamente. Era algo alta, e o seu cabelo era comprido, com um tôm loiro semelhante ao de Mick. Os seus olhos eram de um tôm azul-claro, que Mick achou extremamente bonito. Aos poucos ia perdendo o ar irritado, mas ainda parecia um pouco embaraçada.
- Chamo-me Ana Beatriz, mas podes-me tratar por Bea - respondeu ela, avaliando Mick enquanto falava - E tu ?
- Sou o Mick - Mick sorriu levemente, enquanto se apresentava - Mick Leigh.
- Nunca te tinha visto por aqui - comentou ela, de sobrancelha franzida.
- Sou novo no campus - explicou Mick, enquanto abria novamente as cortinas - Estive cá pela primeira vez há cerca de três meses, mas só cá estive dois dias antes de ir para a recruta. Só voltei ao campus ontem, e ainda não tive tempo de fazer muita coisa.
- Nem vontade - riu-se Bea, olhando para a televisão acesa, e para alguns objectos que ainda não tinham sido utilizados.
- Ei - defendeu-se Mick, com um sorriso - Estava à espera duma chamada da minha orientadora, e só soube agora que ela não está disponível. Para além disso, ainda estou um pouco dorido da recruta, é normal que não tenha vontade para fazer nada.
- Eu entendo - acenou Bea - Também fico assim depois dos exercícios de treino. Com o tempo habituas-te...
Seguiu-se uma breve pausa, durante a qual ambos olharam abstractamente para a televisão, que ainda se encontrava em pausa.
- Acho que vou levar as minhas coisas ao meu quarto, mas podiamos ir dar uma volta, se quiseres - sorriu Bea - Iamos até à cidade, e pagavas-me um gelado. Que te parece ?
- Parece-me bem - conclui Mick, também com um sorriso.
Fruto de um acaso, tinha acabado de conhecer outra querubim, que parecia bastante simpática. Sorriu para si mesmo, e quando Bea saíu, fechando a porta atrás de si, caminhou até à televisão, desligando-a, e preparando-se para vestir uma roupa de civil.

Mick tinha-me parecido muito simpático e divertido. Era bastante bonito e o castanho dos olhos dele transmitiam um tom calmo no rosto dele. Estava com alguma fome e felizmente Mick tinha aceitado o convite que tinha feito por ele. O rapaz precisava de sair do quarto, ficar fechado no quarto nunca faz parte da minha lista de coisas a fazer durante o dia-a-dia e para além disso estava calor.
Saí do quarto dele, que como os restantes estava extremamente bem decorado, nada muito elaborado mas moderno e acolhedor, e dirigi-me para o meu onde estiquei o cabelo e vesti uns calçõess e uma camisola fresca. Peguei também no meu iPhone e numa malinha para levar algum dinheiro e outros pertences caso fossem necessários.
Calcei uns vans que estavam á mão e que ficavam bem com a roupa. Olhei para o meu reflexo no espelho e sorri mesmo sem ter qualquer tipo de maquilhagem na cara.
Fechei a porta do meu quarto e voltei a dirigir-me ao quarto do Mick mas desta vez tive o cuidado de bater á porta.
Entrei quando ele disse que podia entrar e olhei para ele já vestido.
-Só para avisar, sou a fã número um de gelado no mundo.- sorri-lhe. - Só que depois gosto muito de compensar essas calorias no dojo.
Passei as mãos pelo o cabelo, estava um pouco nervosa, provavelmente por achar que Mick tinha na cabeça uma péssima primeira impressão minha, mas só com o tempo é que eu iria confirmar isso.

Mick observou, por momentos, o sol que se erguia alto e radioso do lado de fora da janela. Estava um dia quente, e era possível visualizar vários querubins a passearem nos espaços exteriores, todos eles com roupas leves e frescas, a aproveitar aquele dia de primavera. Apetecia-lhe tomar um banho rápido, depois de ter estado algum tempo debaixo dos lençois, e decidiu fazê-lo. Sabia que tinha de ser breve, porque Bea não iria demorar muito, pelo que tomou apenas um duche rápido.
Assim que acabou, dirigiu-se á sua cómoda, e abriu a gaveta onde guardava as suas t-shirts favoritas. Após algum tempo durante o qual esteve a tentar escolher uma, optou por uma de côr verde-jade, com uma imagem da Brooklyn Bridge no meio. Vestiu umas calças de ganga cinzentas, um pouco justas, e calçou umas Nike Air Force, que também apresentavam côr verde-jade na parte traseira da sapatilha, no símbolo e na sola inferior, mas que eram cinzentas na parte frontal, e brancas nas bases e na sola superior. Quando estava a acabar de apertar os atacadores, ouviu o som de alguém a bater à porta.
- Podes entrar - disse Mick, em voz alta, presumindo que fosse Bea.
Viu a porta a abrir, e Bea entrou. Tinha vestido uma camisola fresca e calções, e trazia consigo uma pequena mala.
- Estou quase pronto - informou Mick, compondo as calças na zona das saptilhas, e levantando-se - Deixa-me só fazer a cama, num instante.
- Só para avisar, sou a fã número um de gelado no mundo - sorriu Bea - Só que depois gosto muito de compensar essas calorias no dojo.
- Sou capaz de ter alguma a dizer quanto a seres fã "número um" - riu-se Mick, enquanto compunha as almofadas - E posso-te ajudar a compensar essas calorias no dojo sempre que quiseres. Adoro artes marciais.
- É bom saber - disse Bea, enquanto olhava para Mick - E então, estás pronto ?
- Estou - confirmou Mick, com um sorriso, enquanto pegava no seu iPhone e na sua carteira, e se dirigia para a porta, abrindo-a, e fazendo um gesto para que Bea passasse - Tu primeiro.

Observei todos os movimentos de Mick enquanto acabava-se de preparar. Tinha de admitir ele tinha bom gosto. O verde-jade ficava-lhe bastante bem e ele sabia fazer algo que a maioria dos rapazes do campus não sabia fazer, vestir-se e conjugar cores decentemente.
Sorri ligeiramente quando ele disse que adorava artes marciais, seria divertido e interessante praticar um pouco com ele no futuro, a minha especialidade sempre tinha sido o karaté, se bem que continuava a não gostar da modalidade. Desde pequena que tinha sido obrigada a pratica-la mas desde que entrei para CHERUB comecei a dedicar-me ao máximo.
- É bom saber - disse-lhe, enquanto olhava para ele- E então, estás pronto ?
- Estou -  Mick confirmou com um sorriso, enquanto pegava no seu iPhone e na sua carteira, e se dirigia para a porta, abrindo-a, fez um gesto com a mão para que eu passasse - Tu primeiro.
Sorri. Não estava á espera de um gesto como aquele.
Passei para o corredor e fiquei a olha-lo enquanto ele trancava a porta. Ajeitei a malinha que estava no meu ombro e comecei a andar com ele.
-Então, conta-me mais sobre ti.- pedi-lhe curiosa.- De certeza que não custumas ser interrompido enquanto estás a ver séries por uma rapariga irritada que nem se quer sabe confirmar o número da porta.- brinquei com a minha própria figura, tentando descontrair.
-Eu sei de uma geladaria muito boa na cidade, os gelados são caseiros e existem sabores exelentes.

- E o que queres saber ? - perguntou Mick, com um sorriso.
- Quero saber tudo o que me puderes dizer - disse Bea, enquanto o fitava - A tua história, o que gostas de fazer... Enfim, o que me quiseres dizer.
Mick suspirou. Não gostava muito de falar sobre si mesmo, mas Bea parecia interessada, e não a queria desiludir. Para além disso, era possível recusar fosse o que fosse com os olhos azuis dela a fitarem-no daquela maneira.
- E começo por onde ? - perguntou Mick, com um suspiro.
- Pela tua história - pediu ela, sorrindo.
- Nasci em Luton, Bedfordshire, cá na Inglaterra, mas quando fiz quatro anos, o meu pai deixou-nos, e eu e a minha mãe tivemos de voltar para o sítio onde ela cresceu, e onde os meus avós viviam. São Francisco, Califórnia. A minha mãe não conseguia arranjar emprego, e em casa o ambiente era um pouco complicado, pelo que passava muito tempo nas ruas. Fiz amizades que por vezes não eram os melhores exemplos, mas que sempre me disseram para me manter afastado do que eles faziam, e eu sempre fiquei de fora dos esquemas deles. E fui crescendo, assim. Quando fiz dezasseis anos, o ambiente em casa ficou mesmo insuportável, e tive de sair de casa. Fui viver para Los Angeles, trabalhava em part-time para conseguir pagar um estúdio pequeno onde vivia, mas contínuava a visitar São Francisco regularmente, e não desisti da minha mãe até ela arranjar um trabalho e começar a estabilizar. Entretanto, a Diana apareceu na minha vida, e recrutou-me para a CHERUB. E a partir daí acho que consegues imaginar o que aconteceu.
- Consigo - sorriu Bea, enquanto chegavam ao pé dos elevadores, e clicava no botão para chamar um deles - E o que gostas de fazer ?
- Adoro estar com os meus amigos - sorriu Mick, enquanto entrava no elevador, e clicava no botão correspondente ao rés-do-chão - Quando estou com eles, qualquer coisa pode ser divertida. Gosto de fazer desporto. Acalma-me, e dá-me novos objectivos de cada vez que o faço. O mesmo com os videojogos. Passo muito tempo a ver filmes, e séries, e sou muito feliz a fazer isso. Adoro ouvir música, e ouço um pouco de tudo, embora prefira certos géneros a outros. Enfim, gosto das coisas normais que toda a gente gosta.
O elevador apitou, como sinal que tinham chegado, e ambos saíram.
- Já te falei sobre mim - disse Mick, com um sorriso, olhando para Bea - Agora é a tua vez... Conta-me, quem é a Bea ?

Acho que Mick tinha percebido o quão curiosa estava eu para ouvir a sua história, como a grande parte dos agentes da CHERUB , Mick não tinha tido uma vida muito fácil.
Continuava cada vez mais a ficar curiosa sobre ele e perguntei-lhe sobre os seus gostos enquanto o elevador descia.
Ele respondia a tudo com um sorriso o que me fez sorrir também.
O elevador acabou por chegar ao piso da receção ao mesmo tempo que Mick tinha perguntado sobre quem era afinal a Bea.
Coloquei uma madeixa do meu longo cabelo, por de trás da orelha.
-Eu nasci em Londres, os meus pais ganhavam bastante bem, era tudo muito bonito até eles decidirem fazer uma viagem pela Inglaterra, de carro. Tivemos um acidente e o meu pai acabou por morrer, eu tinha uns sete anos mais ainda me lembro bem de ver a minha mãe a chorar imenso. Ela não lidou nada bem com a morte do meu pai e começou a beber e sair com homens mais velhos, pôs-me em escolas publicas e não quis saber de mim , provavelmente porque chegava a casa com ressacas de todo o tamanho. Quem cuidou de mim foi a minha empregada, eu tinha começado a andar no karaté aos 6 anos julgo eu e nunca gostei , mas fazia-o porque o meu pai queria que o fizesse... Enfim, a minha mãe acabou também por morrer e eu fui para um centro de adoção e o resto da história já deves saber.- contei-lhe enquanto saímos do edifício principal do Campus.
-Eu também gosto de estar com os meus amigos, gosto de ouvir música e cantar, gosto de nadar e apanhar sol, e quando estou preguiçosa , passar o dia na cama só com o pijama a ver séries enquanto como umas pipocas doces. -dei uma leve risada.- e gosto muito de cozinhar, principalmente sobremesas.-resumi os meus gostos , tive de piscar umas vezes os olhos quando chegamos ao exterior , estava muito sol e calor, felizmente, porque eu já estava farta de ficar dentro do campus.